Texto da jornalista Thaís Oyama, no portal UOL:
Na última sexta-feira, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, deu uma entrevista ao jornal O Globo em que disse que minutas golpistas como a encontraram na casa do agora presidiário secretário do DF Anderson Torres, “tinha na casa de todo mundo”. Quatro dias depois, foi informado de que o ministro Alexandre de Moraes havia autorizado a Polícia Federal a interrogá-lo sobre as declarações.
Valdemar Costa Neto não é exatamente um amador.
Por que disse o que disse?
A resposta pode estar numa decisão de Alexandre de Moraes tomada discretamente no último dia 12 de dezembro e divulgada em janeiro pelo site Metrópoles.
Na decisão, Moraes autoriza a quebra de sigilo telefônico e de dados de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro suspeitos de envolvimentos em atos antidemocráticos. Oito alvos apenas tiveram seus sigilos quebrados de forma direta. Mas a ordem do ministro autoriza a Polícia Federal a estender a medida a qualquer pessoa que tenha tido contato com os investigados.
Integrantes do PL acreditam que Valdemar, ao sugerir na entrevista ao Globo sua familiaridade com minutas golpistas, pretendem antecipar-se a uma acusação que, supõe, emergirá das milhares de mensagens que virão à tona com a quebra de sigilo em escala industrial determinada por Moraes .
Pode ser precisamente o caso do senador Marcos do Val que, sem esperar o dia amanhecer, anunciou em vídeo nesta madrugada que o ex-presidente Jair Bolsonaro tentou coagi-lo a “dar um golpe” para permanecer no poder.
Depois dos ataques golpistas de 8 de janeiro na Praça dos Três Poderes, o senador fez um discurso no Plenário do Senado em que responsabilizou o ministro da Justiça, Flávio Dino, e o presidente Lula pelas consequências do episódio. Sem provas, ele alegou que Dino e Lula “sabiam” que os atentados ocorreriam e nada fizeram para impedi-los.
A declaração do parlamentar nesta madrugada veio acompanhada do anúncio de que ele irá renunciar ao mandato e “voltar para os Estados Unidos”, onde já deu aulas de treinamento policial. No vídeo gravado na madrugada, Marcos do Val parece estar movido por um estranho sentimento de urgência — resta saber o que de fato ele recebeu.
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Marcos do Val renunciou hoje (2.2), quinta-feira). Será substituído por Rosana Foerst, do Cidadania, antigo PPS. A suplente é uma pedagoga aposentada de poucas visibilidade e expressão políticas no Espírito Santo.