Do Sebrae-CE:
O Mapeamento das Startups do Ceará, realizado pelo Sebrae/CE em 2022, evidenciou uma baixa presença das mulheres à frente de negócios inovadores. Das 440 startups no Estado, só 21% eram lideradas por mulheres. Apesar da participação ainda pequena, estas empreendedoras vêm superando as adversidades e conquistando espaço no mercado da inovação.
É o caso de Denise Barroso, cientista em Customer Experience e cofundadora da PliQ, plataforma especializada em gestão da experiência do cliente. A ideia de empreender na área da inovação surgiu após a participação em um Startup Weekend, evento de imersão onde os participantes recebem orientações e mentorias para o desenvolvimento de ideias inovadoras.
Denise Barroso, cofundadora da PliQ
“Me encantei com o mundo da inovação e de como resolver problemas”, destaca a empreendedora. Ele acredita que o espaço para as mulheres na área da inovação vem sendo conquistado aos poucos. “Percebo que estamos tendo mais incentivos para atuar na área, mas falta ainda muito espaço para ser conquistado”.
De acordo com Denise, a diferença de ser mulher e liderar uma startup são mais perceptíveis na hora do fechamento de negócios, mas nada como uma fala de conhecimento e segurança que não façam as coisas mudarem. “Os desafios conquistados serão sempre o nosso maior orgulho e desistir não é coisa de mulher”, destaca a empreendedora.
Mudança de cenário
Para a analista de inovação do Sebrae/CE Gabriela de Aquino, apesar de hoje ainda existir uma grande discrepância na participação de homens e mulheres à frente dos negócios, tanto nos tradicionais, como na área da inovação, já é possível vislumbrar mudanças neste cenário. “Contribuem para esta mudança a crescente dos números de mulheres no mercado de trabalho, como também a capacidade e a força feminina, de impulsionar e mudar a realidade ao seu redor. Além disso, a liderança feminina também incentiva mais mulheres a empreenderem no mercado”.
Gabriela de Aquino, analista de inovação do Sebrae/CE
Ela também destaca o trabalho de instituições como o Sebrae/CE, que tem buscando incentivar o aumento desta representatividade feminina no cenário empreendedor. “O Sebrae/CE tem atuado buscando ajudar estas mulheres por por meio da oferta de capacitações e também do reconhecimento de empreendimentos que possam favorecer o incremento da competitividade nesta área da inovação”.
Time feminino
Participação feminina não é um problema na 4WBIOTECH, startup que trabalha no desenvolvimento de soluções inovadoras em dermofitocosméticos. A empresa nasceu da união de quatro sócias, daí o 4 W do nome da empresa, que faz referência a 4 Women (quatro mulheres). Além disso, ela tem uma equipe 100% formada por mulheres, conforme aponta Silvana Oliveira dos Santos, que é uma das sócias da empresa.
Silvana, que é advogada, conta que foi convidada por três mulheres cientistas, todas doutoras pesquisadoras da UFC, para participar da equipe de uma proposta submetida à primeira edição do programa Centelha CE, primeiro passo para o surgimento da empresa. “Elas estavam convencidas de que uma empresa não poderia ser criada sem ter uma advogada na equipe para auxiliar na criação e gestão da empresa”, disse Silvana.
Advogada Silvana Oliveira dos Santos é uma das sócias da 4WBiotech
Sobre a representatividade feminina na gestão da inovação e no ecossistema do ambiente empreendedor como um todo, ela aponta que este ainda é um grande desafio a ser ultrapassado. “A Organização Mundial de Propriedade Intelectual (OMPI), que está diretamente relacionada à inovação, aponta que, nas áreas de Ciências, Tecnologias, Engenharias e Matemática (STEM), o Brasil tem menos que 20% de mulheres inventoras. Esse percentual não é diferente quando se fala da atuação das mulheres cientistas que transformam pesquisa e conhecimento em negócios. Apesar de muitas delas terem elevada competência no gerenciamento de projetos de pesquisa, poucas desenvolvem ações empreendedoras”, destaca Silvana.
Mesmo diante desse cenário apontado, a empreendedora deixa uma mensagem de incentivo e otimismo para outras mulheres que queiram empreender na área da inovação. “Nós, mulheres, temos “poder” de ultrapassar barreiras e congregar competências para realizar sonhos. Acredite no seu potencial criativo, inovador e empreendedor”, finaliza.
Jogos eletrônicos
Outra empreendedora do Estado que se destaca na área da inovação é a Chief Operating Officer da Studio 85, Rayanne Reveg, que há quatro anos vem atuando na área de desenvolvimento de jogos. Formada em Jogos Digitais foi ainda na universidade que começou a ter os primeiros contatos com o ecossistema de games e onde encontrou os amigos que viriam a se transformar em seus futuros sócios.
Ela conta que o segmento de jogos eletrônicos vem passando por um processo crescente de participação das mulheres. “À medida que participo de eventos percebo que a indústria vem se tornando mais diversa e que muitas mulheres desempenham importantíssimos papéis em diferentes empresas”. Segundo Rayanne, esta presença em cargos de liderança das empresas é algo essencial para estimular outras mulheres que estão ingressando na área. “Foi o que me fez continuar lutando na área mesmo me deparando com tantos desafios. E, como empreendedoras, também é nosso dever buscar fornecer um ambiente de trabalho de equidade e muito acolhimento!”.
A Chief Operating Officer da Studio 85, Rayanne Reveg, atua há quatro anos na área de desenvolvimento de jogos eletrônicos
Com relação aos desafios de liderar uma empresa na área da inovação, a empreendedora conta que ainda percebe um certo estranhamento de alguns profissionais que, ao lidarem com o Studio 85 a fim de firmar relações, acabaram encontrando uma mulher jovem em uma posição importante. Mas, segundo ela, essas preocupações tendem a desaparecer após apresentações e conversas. “Nestas conversas, muitos já admitiram ter esse preconceito e, na minha visão, são esses momentos de desconstrução que permitem que nossa indústria se molde a ser tão diversa”.
Para as mulheres que querem atuar ou empreender nesta área, o conselho de Rayanne é “mergulhem sem medo”. “Saibam que vocês podem se deparar com diferentes tipos de desafios, mas são esses desafios que fazem a nossa jornada ser mais interessante e que irão nos estimular a continuar nos desenvolvendo”.
Ela também deixa uma mensagem de acolhimento para as futuras empreendedoras. “Peço que não se esqueçam que vocês não estão sozinhas e que nossa comunidade estará sempre de braços abertos a as acolher. Existem pessoas incríveis que poderão te auxiliar para ter uma jornada mais “leve” como os grupos da “Women Game Jam”, “Ascende Jogos”, “IGDA Fortaleza” e nós do “Studio 85”. A luta sempre será nossa, então se “joga” no mundo de desenvolvimento de games!”, finaliza.