
Artigo do jornalista Roberto Maciel:
Publicamos ontem, aqui no portal InvestNE e no jornal Opinião, artigo intitulado “Lula e a arte de ficar calado”. Escrevemos lá que, “por tudo o que passou, Lula tem a obrigação de ser comedido (com as palavras). De ser sereno. De ser, como protagonista da História, exemplo de quem está acima da mesquinhez vulgar”.
Avançamos mais um pouco: “Não se quer aqui dar lição de moral ao presidente ou a quem quer que seja. (…) Não raro, (a política) é uma arte de engolir sapos e palavras. Dar de ombros para a compostura e a inteligência emocional há de ser, sempre, o pior caminho a se trilhar”.
Mudemos de personagem, então, guinando para o lado oposto.
Jair Bolsonaro, antecessor de Lula na Presidência, chegou ontem ao Brasil após 89 dias nos Estados Unidos. Saiu colocando nas costas dos brasileiros o custo da viagem, sem ter sequer cumprido o dever constitucional de transferir o poder para aquele que o havia derrotado na disputa nas urnas em 30 de outubro.
Meio que se escafedeu e só depois, muito depois, foi-se saber que a pressa não era política nem ideológica. Era, sim, movida pela necessidade de levar para bem longe do País, buscando uma pretensa segurança e fora do alcance dos olhos da Justiça, do fisco e do povo, alguns milhões de reais em joias – todas recebidas, ao arrepio da lei, de autoridades do rico mundo árabe.
Pois bem: na próxima quarta-feira, 5 de abril, Jair, o “mão-ligeira”, tem compromisso fora da política, mas dentro da polícia. Vai ter de esclarecer à PF a razão de ter desviado para si o que deveria, conforme as regras mandam, ter sido integrado sem questionamentos ao patrimônio público. Na verdade, não há muitas explicações a serem dadas. Há apenas a de que ele não sabia que era errado tomar coisas dos outros – o que seria uma inutilidade a ser dita, pois não se pode alegar ignorância para justificar crime. E a de que embolsou mesmo, porque considera que aquilo tudo é dele e dane-se quem discordar.
Ele pode dizer também que, a exemplo do que reclamou quando era apenas um capitão que planejava atentados contra quarteis, que “o salário está baixo”.
Pensando melhor, é preferível que não alegue isso.
Sobra, ainda, um tanto que boiando no lodaçal de inquidades que foi o período que se chama, por conveniência organizacional e histórica, de “governo Bolsonaro”, a tese de que ele esperava que o 8 de janeiro parisse um golpe de estado bem-sucedido e que, assim, não teria de dar satisfações sobre nada do que fez. Ou do que pegou.
Mas aí é só especulação minha. Desconsidere, se julgar melhor.