A crônica da Tuty: “Revolução”

Da jornalista e escritora Tuty Osório:

Assisti A CASA DOS ESPÍRITOS em Paris, 1993. Numa sala de cinema de rua, dentre as 200 que existiam na época. Não sei como é hoje. Faz um tempo que não vou lá. Valeu morar em Paris. Por muitos motivos prosaicos.

As feiras livres de calçada, a música de graça nas igrejas, em pleno inverno, muitos motivos pueris, simplórios. Um deles, certamente, eram as salas de cinema, que custavam mais caro que um livro de bolso, vendido em mesas de madeira, à porta das livrarias. Mesmo assim, o cinema era acessível, viável.

Não tinha lido o livro. Isabel Allende já era famosa, obviamente. Uma história impressionante, emocionante, tocante. Jeremy Irons, Meryl Streep, Winona Ryder. Ídolos na tela grande, realismo mágico misturado com história política. O mais marcante foi ver o amor pessoal vencer. O pai adepto de Pinochet liberta a filha militante. Move todos os recursos que possui. A filha quer seguir dedicada à família, abandona o ativismo. Eram mensagens de novos tempos.

Tempos em que começava a se esboçar a confusão. Um mundo sem verdade. Um mundo de abstração assumida. Todavia, um mundo que possibilita que a gente questione.

É duro. Contudo, sempre é melhor saber. Eu sempre prefiro saber. No cair da noite parisiense, ao sair do filme legendado em francês, e olha que o meu francês era precário, estava tomada. A guerra fora vencida. De lá para cá, apesar de tudo, os corações têm tentado vencer. Corações de caçador. De caça, de guia.

Estudo, tento entender. Me perco. Política de que jeito? Ou sem política de que jeito? Vida em quais condições? Vida breve.

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Tuty Osório é jornalista, especialista em pesquisa qualitativa e escritora.

São de sua lavra QUANDO FEVEREIRO CHEGOU (contos de 2022); SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA (quadrinhos com desenhos de Manu Coelho de 2023) e MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE MARIA AGUDA, dez crônicas, um conto e um ponto (crônicas e contos, também de 2023).

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