Texto do jornalista Valdélio Muniz, analista judiciário e mestre em Direito Privado. Membro do Grupe (UFC):
Eles ganharam ainda mais evidência no trágico período de pandemia da Covid19. Para poder se dedicar a salvar vidas e curar tantos pacientes de uma só vez, expuseram-se a riscos ainda maiores do que já fazem no cotidiano da profissão que escolheram. Apesar disso, continuam integrando no Brasil a atividade econômica com maiores índices de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais. Refiro-me aos trabalhadores em atividades de atendimento hospitalar.
Segundo dados mais recentes (2022) do Anuário Estatístico de Acidentes de Trabalho (AEAT), do Ministério da Previdência Social, foram 67.909 profissionais que atuam neste segmento afastados do trabalho por acidentes de trabalho naquele ano, quando o Brasil registrou um total de 648.366 acidentes de trabalho (entre os considerados típicos – ocorridos no exercício da atividade, de trajeto – percurso casa-trabalho-casa, e doenças ocupacionais). Ou seja, 10,47% do total em um só setor da economia.
Essa “liderança” tem se repetido. Dados do AEAT de 2021 apontam que, na atividade, ocorreram 64.833 afastamentos por acidente de trabalho do total de 580.833 ocorrências naquele ano (11,16%). Em 2020, o malfadado podium também ficou com o setor: 63.218 afastamentos do total de 465.772 (13,57%).
O percentual diminuiu nestes três anos por consequência do crescimento das ocorrências envolvendo diversas atividades econômicas. Quando se observam, porém, os números absolutos relativos aos trabalhadores de atividades de atendimento hospitalar, além de se manterem constantemente acima dos 63 mil afastamentos, vê-se um crescimento numérico que, em 2022, já se aproximou dos 70 mil.
A liderança de acidentes de trabalho e adoecimento ocupacional nesta atividade é tamanha que deixa o 2º colocado com larga distância. Nesse vergonhoso podium, o “vice-campeão” nos três anos foi o setor de hipermercados, supermercados e comércio varejista de mercadorias em geral, com números crescentes: 19.382 ocorrências em 2020; 23.285 em 2021 e 24.050 em 2022.
São vidas atingidas por acidentes e doenças muitas vezes evitáveis. Afetam os trabalhadores, seus familiares e amigos, a economia das empresas e os sistemas públicos de saúde e previdência e demandam olhar sensível e ações firmes de governos, empregadores, sindicatos e toda a sociedade.