Em meio a um cenário macroeconômico incerto e desafiador, a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, a ser divulgada nesta quarta (8.5), tem gerado grande expectativa no mercado financeiro. Especialistas se debruçam em discussões sobre o ritmo ideal de corte da taxa Selic, se haverá corte de 0,25% ou 0,50%, diante de um cenário adverso tanto no Brasil com incertezas fiscais e enchentes no Rio Grande do Sul, assim como um cenário complicado também nos EUA com a queda de juros tendo sido adiada por lá pelo banco central americano.
Pedro Marinho Coutinho, especialista em mercado de capitais e sócio da The Hill Capital, acredita que a queda deve ser de 0,50%. “Alguns players do mercado falam em 0,25% e reforçam muito esse cenário por conta da tragédia no Rio Grande do Sul, batendo na questão fiscal, mas acredito que a gente ainda tenha o 0,50% na frente para seguir com o guidance que o Copom tinha dado lá atrás na última reunião”, diz.
Já Rodrigo Azevedo, economista, planejador financeiro e fundador da GT Capital, projeta um cenário de queda de 0,50% de queda em maio e 0,25% em junho. “O cenário negativo após o último Copom acabou por validar a decisão da mudança de forward guidance do plural para o singular, dando mais liberdade para os próximos passos de política monetária a partir de junho”, complementa o economista.
Apesar da queda, Azevedo ressalta que a renda fixa ainda se mostra um investimento atraente. “Mesmo com uma nova queda de juros, seguiremos com uma taxa de dois dígitos, um nível de taxa ainda interessante para os ativos de renda fixa”, explica.
Ele destaca, em especial, os títulos pós-fixados, que, mesmo sendo os mais afetados negativamente pelo corte de juros, ainda oferecem rentabilidade interessante devido à liquidez e à possibilidade de realocação em momentos estratégicos. “Mesmo nos títulos pós-fixados, os mais afetados negativamente pelo corte de juros, a rentabilidade é interessante considerando a liquidez imediata e a possibilidade de utilizar essa parte da carteira para oportunidades pontuais, como tem sido nas últimas semanas a alocação em títulos públicos IPCA+ com a abertura da curva de juros”, complementa Azevedo.
Elcio Cardozo, especialista em mercado de capitais e sócio da Matriz Capital, ressalta a maior incerteza do mercado em relação ao corte da Selic nesta reunião, contrastando com o consenso nas reuniões anteriores. “Após sucessivos cortes de 50bps na Taxa Selic com certo consenso no mercado, esta será uma reunião do Copom que traz maiores dúvidas ao mercado qual será o corte de juros nesta reunião”, afirma Cardozo.
Essa incerteza se baseia em indicadores dos EUA com inflação persistente e na situação fiscal brasileira com a previsão de déficits mais altos. “A maior parte do mercado está confiante em um corte de menor magnitude, ou seja, de 25 bps, para esta reunião. Essa expectativa de cortes menores decorre de uma série de dados que foram divulgados pelos Estados Unidos e também por fatores internos”, explica Cardozo.
Apesar da expectativa majoritária de um corte menor, Cardozo defende a possibilidade de um corte de 0,50%, embasado na inflação controlada e no patamar elevado da taxa Selic. “Particularmente, eu entendo que haja espaço para o corte de 50bps, como ocorreu nas reuniões anteriores do Copom. Nossa inflação está bastante controlada, com seguidos dados divulgados abaixo do consenso e o atual patamar de juros reais ainda está muito alto, havendo caminho para maiores cortes na taxa de juros”, argumenta o especialista.
Cardozo destaca que os impactos de cortes diferentes da Selic se refletiriam em diferentes setores da economia. “Setores como varejo, construção civil e educacional tendem a se valorizarem mais com um corte maior do que o esperado na Selic. Já na renda fixa, ativos prefixados e atrelados ao IPCA também se valorizam com essa queda maior do que o esperado pelo mercado, quando avaliamos a marcação a mercado destes ativos”, explica. No caso de um corte de 25bps, já precificado pelo mercado, Cardozo recomenda uma postura mais conservadora em investimentos em ações, priorizando empresas resilientes e pagadoras de dividendos.
Ana Paula Carvalho, planejadora financeira e sócia da AVG Capital, ressalta que as incertezas no cenário externo se deterioraram nos últimos meses com questões relacionadas às decisões de juros do FED e geopolíticas em alguns países produtores de petróleo. Aqui no Brasil, segundo ela, os fortes dados de atividade econômica, em especial, o mercado de trabalho e a composição da inflação sugerem maior cautela da política monetária, além de um cenário fiscal bastante preocupante e a deterioração nas expectativas de inflação.
“Diante de um cenário em que a taxa de juros tende a cair menos que o previsto no início do ano, as aplicações em renda fixa têm se mostrado ainda atrativas. Para o investidor com perfil mais arrojado, dada uma forte abertura nas curvas de juros futuras, surgiram boas oportunidades em ativos prefixados e em papeis que pagam IPCA + juros com vértices mais longos. Já para os investidores com perfil conservador, os papeis pós-fixados com prazos de até dois anos continuam sendo boas opções com preferência para ativos isentos”, explica.
Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, acredita que é hora de o investidor fazer caixa. “Eu não investiria em Bolsa agora, nem em Fundos Imobiliários. Eu só acho que não é momento de entrar agora porque não está tão atrativo assim com essa possibilidade de os juros não caírem tanto como era esperado. Eu pensaria em investir em empresas lá de fora como BDRs, por exemplo. Empresas de tecnologia têm entregue ótimos resultados. Na minha visão, Tesla, Apple, Microsoft, a própria Alphabet, Google são ótimas opções”, diz o analista.
Já para Andre Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital, os ativos brasileiros ainda se mantém descontados, negociando a um P/L projetado para os próximos 12 meses próximo a 8x, sendo a média histórica na faixa 11-12x. “Acredito que há muito upside para ações do mercado brasileiro. Além disso, está havendo novamente uma revisão na projeção dos lucros das empresas para cima. A nova projeção no crescimento dos lucros das empresas para os próximos 12 meses ficou acima do pico dessas projeções feitas em dezembro/2023. Então, na minha visão, para quem procura investimento de longo prazo, as ações do Ibovespa estão a preços atrativos”, comenta.