Todos os anos, o Grupo Croma realiza o estudo “Sonhos Brasileiros”, que avalia o quanto os brasileiros conseguiram concretizar seus sonhos e quais são os novos sonhos para o próximo ano. Ao todo, foram realizadas 1.010 entrevistas no final de 2023, no qual 36% dos entrevistados têm como desejo principal de consumo a conquista de uma casa ou moradia, seguido de 26% que têm o desejo de adquirir um veículo automotivo, principalmente um carro.
Para Edmar Bulla, fundador do Grupo Croma e idealizador do estudo, são vários os motivos que permeiam a população pela realização de alguns objetivo, mas o principal está conectado ao reconhecimento por parte da sociedade: “o anseio da população por esses bens está diretamente ligado à simbologia de status social, que confere uma conotação de estabilidade, sucesso e independência”.
Segundo o estudo, o sonho de ter a casa própria é ainda maior entre brasileiros de 35 e 44 anos (49%) e o sonho de adquirir um veículo é maior entre os entrevistados de 45 a 54 anos (31%). Ainda de acordo com Edmar Bulla, “o estudo quebra mitos e mostra que, mesmo entre as gerações mais jovens, há um desejo de formação de núcleo familiar e conquistas de consumo”.
De modo geral, saúde e bem-estar físico e mental estão no topo dos sonhos para este ano, seguidos por realização financeira. “Isto é um reflexo de uma sociedade desgastada e com consequências ainda pós-pandêmicas, que busca soluções para a saúde do corpo, da mente e do bolso, sem falar nas necessidades de socialização”, explica Bulla.
Ainda de acordo com o especialista, os índices de inadimplência e endividamento, bastante elevados, promovem desgaste e movimentam os brasileiros para caminhos de segundos empregos e empreendedorismo, o que tende a comprometer ainda mais a sua saúde: “Os bens de consumo são, portanto, símbolo de que a situação mudou, está mudando ou pode mudar”, conclui.
Do ponto de vista financeiro, buscar alternativas para adquirir um imóvel ou automóvel tem se tornado mais comum entre os consumidores. Para Fernando Lamounier, especialista em educação financeira e diretor da Multimarcas Consórcios, o mero financiamento deixou de ser atrativo: “Com os valores dos bens ou outros produtos de maior valor agregado, tomar decisões ao adquirir um desses bens é um passo muito delicado e de alta responsabilidade, se tratando de uma dívida que pode durar anos, sem mencionar as altas taxas de juros a depender do método de aquisição escolhido.”
Uma das alternativas que chama a atenção dos consumidores é o sistema de consórcios. De acordo com dados da Abac (Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios), essa modalidade de negócio movimentou mais de R$ 316,7 bilhões em 2023, um crescimento de 25,6% na comparação com 2022. Já o volume de participantes ativos consolidados no sistema de consórcios chegou a 10,29 milhões, uma alta de 9,4%, tornando-se um resultado inédito no país.
Para Fernando Lamounier, esse crescimento constante é consequência do cenário econômico, já que, com a alta dos juros, os consórcios representam uma alternativa para quem deseja fazer aquisições de bens ou outros produtos de maior valor agregado: “Os valores de financiamento e empréstimo se tornam impeditivos para quem realmente coloca o custo da dívida na ponta do lápis. O consórcio, por não contar com juros, mas sim com uma taxa de administração, passa imune a esse fenômeno e se torna cada vez mais atrativo”, explica.
Outro fator que contribui para essa modalidade, é o fato de os consórcios englobarem diferentes produtos e objetivos, que vão desde imóveis até a aquisição de serviços. Dos seis indicadores analisados pela Abac, quatro registram alta: imóveis (20,8%), veículos leves (13,1%), motocicletas (4,0%) e veículos pesados (2,5%).
O número de contemplações, entre consorciados que puderam utilizar o crédito, também registrou aumento, chegando a 1,62 milhões no ano passado, 6,6% maior que em 2022, e o ticket médio mensal passou de R$ 59,56 mil para R$ 74,24 mil, uma alta de 24,6%. Ainda de acordo com dados do Anuário 2024, da Abac, entre os principais potenciais clientes de consórcios, 46% pretendem investir em um imóvel, e 37% em um veículo leve.
Em 2024 é esperado que a taxa básica de juros (Selic) tenha um suposto encerramento abaixo de 9,25% de acordo com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban). No entanto, na avaliação de Lamounier, o número continua alto e, por isso, o setor de consórcios deve ganhar ainda mais espaço: “A redução não tem grande interferência no mercado de consórcios, já que os juros ainda continuam elevados, o que tende a atrair mais brasileiros. É esperado que a tendência de crescimento do setor, que vemos ao longo dos anos, permaneça em desenvolvimento e expansão”, complementa.