O Ceará pode contar em breve com uma campanha para informar e esclarecer a população sobre o Transtorno de Processamento Sensorial (TPS). A Assembleia Legislativa do Ceará (Alece) aprovou neste mês proposta que institui a Campanha de Conscientização do Transtorno de Processamento Sensorial nas unidades de saúde do Estado.
A apreciação da proposta vai favorecer pessoas que convivem com alterações nos aspectos sensoriais, como audição, tato, paladar, visão ou olfato, devido a uma dificuldade do cérebro em processar estímulos e informações do ambiente.
O projeto de lei n° 496/23, de autoria da deputada Luana Régia (Cidadania), foi aprovado na Alece no último dia 14 de agosto e objetiva ampliar informações sobre os principais sinais de TPS nos hospitais públicos, unidades de pronto atendimento, postos de saúde e nas demais unidades de saúde do Ceará.
A campanha prevista na proposta visa ainda estimular o diagnóstico do TPS por meio da realização de testes específicos, geralmente em crianças em idade pré-escolar ou escolar; incentivar a busca de atendimento por profissionais especializados; apoiar a disponibilização de informações sobre os tratamentos recomendados, além de oferecer suporte às famílias de crianças diagnosticadas com o transtorno.
Para a deputada Luana Régia, a aprovação da propositura, que passa a valer após sanção do governador do Estado, é de grande relevância, já que colabora para a difusão de informações acerca do TPS, facilitando maior conhecimento dos sintomas, diagnóstico e tratamento necessários.
“Estudos recentes demonstram que há um elevado grupo de pessoas que não são autistas, mas que apresentam TPS. De acordo com o portal Canguru News (2023), o TPS atinge entre 5% e 16% da população em geral, podendo ou não estar associado a alguma patologia já diagnosticada. Os dados são de uma revisão científica feita pelas faculdades de Medicina e de Educação Física da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)”, assinalou.
SINTOMAS
Um dos objetivos da Campanha de Conscientização do Transtorno de Processamento Sensorial é a divulgação de informações acerca dos principais sinais de TPS a serem observados nas crianças, entre eles:
- Dificuldade com tarefas de cuidado pessoal e hipersensibilidade a roupas;
- Dificuldade em sujar mão e rosto;
- Não gostar de brincar com areia;
- Dificuldade significativa para comer;
- Demonstrar medo quando se movimenta para trás;
- Dificuldade significativa em realizar uma atividade sentado(a) por mais de 1 ou 2 minutos;
- Medo de tirar o pé do chão;
- Dificuldade para se acalmar por conta das informações sensoriais recebidas do ambiente, de permanecer dormindo e transacionar entre tarefas e atividades;
- Agitação, dificuldade em controlar emoções e necessidade de estar sempre em movimento;
- Cobrir os olhos ou ouvidos com frequência;
- Sensibilidade à luz;
- Baixo limiar de dor;
- Resistir a abraços ou toques repentinos;
- Dificuldade de processar e expressar sensações de frio, calor, fome, cansaço.
Sala Sensorial da Alece é um espaço adaptado para atendimento de pessoas com especificidades sensoriais – / Foto: José Leomar
SOBRE O TPS
A terapeuta ocupacional do Centro Inclusivo para Atendimento e Desenvolvimento Infantil (Ciadi) da Alece, Amanda Sobral, explica que o TPS pode afetar um ou mais sentidos e, com isso, interferir na atenção, organização do comportamento e atividades diárias.
“Pode ser observado em indivíduos sem qualquer condição clínica aparente, mas geralmente ocorre associado a outros diagnósticos, como o transtorno do espectro autista (TEA), transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) ou transtorno do desenvolvimento da coordenação. São crianças que podem ser hipersensíveis, ou seja, que tenham sensibilidade em excesso, como podem ser hipossensíveis, precisando de maiores estímulos para processar”, apontou.
Amanda Sobral, que atua com abordagem de integração sensorial, ressaltou que, além dos sentidos, o TPS pode também afetar o sistema periférico, responsável pela informação sensorial dos movimentos, e o sistema proprioceptivo, responsável pela informação sensorial muscular.
ATENÇÃO AOS SINAIS
A médica psiquiatra Ana Cláudia Vaneziani esclarece que o Transtorno do Processamento Sensorial faz com que o cérebro tenha dificuldade em organizar e responder às informações que recebe através dos sentidos.
“Isso significa que uma pessoa com TPS pode reagir de forma exagerada a estímulos como sons, luzes ou texturas, ou, por outro lado, pode parecer não perceber esses estímulos da maneira adequada. Essa diferença na percepção sensorial pode influenciar no dia a dia, dificultando a concentração, a coordenação e até as interações sociais”, frisa.
Para Ana Cláudia, é importante que profissionais de diversas áreas estejam atentos a sinais que possam indicar TPS, já que identificar esses sinais e encaminhar o paciente para uma avaliação especializada pode fazer toda a diferença.
“O tratamento envolve abordagens terapêuticas focadas em terapia ocupacional, com técnicas que ajudam a regular e integrar as respostas sensoriais, permitindo uma melhor adaptação aos estímulos ambientais”, disse.
Já a psicóloga Kaellynne Trajano chama a atenção para a importância do acompanhamento, não apenas da criança diagnosticada, como também da família. “A família é importantíssima na vida de uma criança com qualquer transtorno, pois é justamente ela que oferece suporte emocional necessário para o desenvolvimento e fortalecimento da criança, reduzindo o estresse e a ansiedade”, afirmou.
Kaellynne Trajano ressalta ainda que o engajamento de todos que fazem parte do convívio da criança é crucial para o tratamento e para a continuidade dos processos terapêuticos em casa. “Algumas atividades farão parte da rotina da família como a observação das mudanças de comportamento, sejam evoluções ou dificuldades; atividades lúdicas realizadas que estimulam o desenvolvimento cognitivo, emocional e social, além da busca de promover brincadeiras que ajudem a enfrentar as dificuldades de interação social e a maneira como a criança encara o mundo”, explica.
A profissional enfatiza também a necessidade dos familiares de buscarem o autocuidado, seja para aceitação ou para o enfrentamento dos obstáculos. “É fundamental que todos busquem informações e cuidados necessários. A preservação da saúde mental é para todos os indivíduos, independente de idade ou transtornos. Faz parte do autocuidado e da manutenção de um lar seguro e acolhedor”, assinalou.
SALA SENSORIAL
Visando oferecer um serviço inclusivo, humanizado e acolhedor, a Alece oferece uma Sala Sensorial para o atendimento do público com especificidades sensoriais que buscam a Casa do Cidadão para a emissão da Carteira de Identidade Nacional (CIN). O espaço é reservado para usuários e seus acompanhantes e está localizado no prédio do Anexo III da Casa, na Av. Pontes Vieira, 2348, 3° andar, sala 307, Dionísio Torres, Fortaleza.
O equipamento é uma parceria entre o Poder Legislativo, por meio do Centro Inclusivo para Atendimento e Desenvolvimento Infantil (Ciadi), e o Governo do Estado do Ceará, por meio da Secretaria da Proteção Social (SPS) e da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), representada pela Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce), responsável pela emissão das carteiras de identidade no Estado.
A Sala Sensorial da Alece é equipada com recursos terapêuticos sensoriais, como brinquedos infantis, tapetes, tatames, almofadas e itens para estimular a criatividade, como lápis de cor, giz de cera, canetas para colorir e massa de modelar. Enquanto aguardam atendimento, os profissionais do Ciadi simulam os procedimentos para a coleta das digitais e a assinatura da criança ou do adolescente, em uma lousa mágica. A fotografia também é ensaiada com o uso de uma câmera fotográfica digital sem flash.
Para fazer a Carteira de Identidade Nacional (CIN), o cidadão precisa fazer o agendamento no site da SPS, escolher a opção “Casa do Cidadão da Assembleia Legislativa – CIN (identidade)” e preencher os dados pessoais.
No dia do atendimento, o responsável deve levar a criança ou o jovem na data marcada e apresentar os documentos originais necessários para a emissão da CIN. São eles: certidão de nascimento, número do CPF e laudos médicos que atestem a condição da criança ou jovem. Ainda é possível incluir outros documentos oficiais, como o título de eleitor e o número do cadastro do Sistema Único de Saúde (SUS).