Em ameaça à hegemonia dos gêneros sertanejos, o funk e o rap já são uma constante entre os gêneros mais ouvidos do Brasil. Sefundo a plataforma Spotify, em 2024 os artistas do funk dominaram o top 5 dos mais ouvidos no país, ocupando três das cinco posições: MC Ryan SP (2º), na foto acima, Mc IG (4º) e MC PH (5º). Com a crescente ascensão de representantes da música periférica e urbana brasileira, surge um desafio: esses novos talentos têm uma estrutura adequada para lidar com o sucesso? O hub criativo Cria.co, de Belo Horizonte, nasce justamente para sanar essa carência observada no mercado local. O projeto é uma resposta à urgência de estruturar um movimento cultural que já é potente, mas que ainda se vê com falta de suporte técnico e estratégico para se sustentar a longo prazo.
É o que a idealizadora da Cria, Carolina de Amar, avalia. “Apesar do avanço da música urbana de BH no Brasil e no mundo, ainda enfrentamos uma escassez de profissionais preparados para gerir carreiras com visão de futuro, administrar catálogos de obras e fonogramas, estruturar turnês com estratégia e consistência e até mesmo lidar com contratantes, editais e formalizações de forma segura. A Cria chega para contribuir para que esse movimento de avanço não seja passageiro, como muitas vezes esperam dos nossos gêneros, mas sim para que ele se fortaleça e se estabeleça como parte essencial do futuro da música brasileira”, destaca.
Carolina de Amar é co-fundadora da empresa de cultura A Macaco e uma das mentes por trás do Festival Sarará. Figura influente no cenário cultural de Belo Horizonte, a produtora tem um longo histórico de atuação com a cena do funk e do hip-hop, que foram sua porta de entrada para a indústria musical. A Cria.co foi idealizada a partir de seu desejo de se reconectar com a base que lançou sua trajetória na área. Com base em seus anos de experiência, ela identificou os principais gargalos para artistas periféricos e suas equipes, reunindo na Cria.co as soluções em seis frentes de atuação principais: incubadora, estúdio, editora, distribuição, agenciamento e capacitação.
Mais do que um selo, a Cria.co se posiciona como uma plataforma de inteligência artística e profissionalização. Sua atuação será voltada tanto para artistas quanto para equipes, selos independentes e profissionais da cadeia musical, propondo um modelo mais humano e estruturado de fazer música. Catarina Capelossi, produtora executiva e Label Manager da Cria, fala sobre esta proposta integrada: “A Cria.co só é um hub porque a forma da gente trabalhar é acolhedora em integrar tudo que se conhece entre as partes. Chegamos para tornar viável e acessível o nosso conhecimento, desde a nossa linguagem até a forma de abordar e receber as pessoas”, afirma. Com foco na curadoria, formação e desenvolvimento de carreira, o hub oferecerá suporte estratégico desde o planejamento até a administração de obras, direitos autorais e performance digital.
A iniciativa chega em um momento próspero para o funk e o rap de BH, que têm conquistado cada vez mais projeção nacional. No momento, a Cria.co tem em seu catálogo os artistas MC Vitin da Igrejinha — dono do hit “Baile do Morro”, que acumula mais de 200 milhões de plays nas plataformas digitais —, Maika, Brandu, PS e DJ Lucas BHZ.
A primeira ação da Cria.co será um curso de Produção Artística Para Shows, que será divulgado com mais detalhes no Instagram do hub nas próximas semanas. Carol destaca os objetivos da capacitação. “Quando uma música estoura, as demandas de palco chegam rápido, e nem sempre o entorno do artista está preparado para responder a isso com estrutura. Nosso objetivo é capacitar essas pessoas com as ferramentas e conhecimentos essenciais para atuar de forma profissional, garantindo que os shows sejam bem executados, que os artistas sejam valorizados e que as oportunidades se multipliquem”, explica.
Além desse curso, o hub ofertará uma série de workshops ao longo do ano, abordando temas como gestão de carreira, direito autoral, estruturação de equipe, marketing musical e outros pilares essenciais para quem quer viver da música de forma séria e sustentável.
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