Do The Intercept: “O método Vaza Jato se espalha”

Texto de Andrew Fishman (foto), presidente e cofundador do site The Intercept BR:

Publicamos esta semana uma investigação que precisa ser transformada em um thriller de Hollywood.

Ela envolve o assassinato de um candidato presidencial, gangues de narcotraficantes, processos politicamente tendenciosos, traições, vazamentos de conversas criptografadas e conversas secretas com o governo dos EUA.

A reportagem, publicada com nossos amigos do Drop Site News, é uma janela incrível para a dramática queda do Equador, de um modelo próspero e seguro para a região há apenas alguns anos para uma bagunça em espiral com uma economia em frangalhos e uma onda de violência do narcotráfico. (Talvez você se lembre de ter visto pistoleiros mascarados assumindo o controle de uma estação de TV ao vivo em janeiro – chegou a este nível).

A história também é fascinante para qualquer pessoa que tenha acompanhado a Vaza Jato, porque os muitos paralelos dão crédito ao argumento de que a Lava Jato fazia parte de uma metodologia apoiada pelos EUA para usar a política anticorrupção para desacreditar líderes de esquerda populares que buscavam a soberania nacional em vez da subserviência aos interesses dos EUA.

Nesse sentido, esta semana também publicamos uma análise fascinante de Nick Cleveland-Stout sobre como os principais produtores estrangeiros de petróleo financiaram o Atlantic Council que apoiou a Lava Jato e teve a missão de abrir o pré-sal brasileiro para o capital estrangeiro.

Assim como no Brasil, o resultado no Equador foi a redução dos gastos sociais, o aumento do descontentamento popular e o crescimento da antipolítica, que são o terreno fértil perfeito para os extremistas de extrema direita assumirem o poder.

Você realmente precisa ler a matéria completa para entender, mas tentarei resumir alguns dos destaques.

Recebemos 1.500 mensagens enviadas em um aplicativo de bate-papo criptografado que Ronny Aleaga, ex-membro do Congresso que era filiado ao partido de esquerda do ex-presidente Rafael Correa, recebeu de “Seño”, o nome de usuário que ele afirma ser da procuradora-geral Diana Salazar. (Salazar não negou que tenha enviado as mensagens e vários detalhes corroboram a alegação).

Salazar tem conduzido processos anticorrupção de alto nível contra Correa e seus aliados com base em provas escassas (se você está pensando no meme da Lava Jato de “não temos prova, mas temos convicção” neste momento, você não está sozinho).

Ela também está indo atrás dos ex-presidentes de direita Guillermo Lasso e Lenin Moreno, mas nos bate-papos atribuídos a ela, ela diz que está adiando esses processos para depois das eleições de 2023 para não beneficiar o partido de Correa. (De novo, soa familiar?)

Depois que o candidato presidencial Fernando Villavicencio, focado no combate à corrupção, foi assassinado em agosto de 2023, poucas semanas antes da eleição, seu gabinete divulgou que Correa era o responsável, fazendo com que o partido caísse imediatamente nas pesquisas.

Eles perderam em uma disputa apertada. Nos bate-papos, no entanto, Salazar supostamente deixa claro que sabia que uma notória gangue de tráfico de drogas era a responsável, mas permitiu que a falsa acusação persistisse em público.

Ela também revela detalhes de conversas com o embaixador dos EUA em que diz que Villavicencio era na verdade um informante norte-americano e que o governo dos EUA queria “a cabeça” do partido Revolução Cidadã de Correa, temendo seu retorno ao poder.

Salazar também sinalizou que estava trabalhando em colaboração com o governo dos EUA no caso Villavicencio e nos processos anticorrupção, até tentando recrutar Aleaga para ser testemunha dos gringos.

Você deve se lembrar que expusemos na Vaza Jato, em parceria com a Agência Pública, como Deltan Dallagnol e seus associados realizaram reuniões secretas e ilegais com procuradores dos EUA e o FBI em Curitiba e usaram o governo dos EUA para ajudar a driblar a lei brasileira e o governo brasileiro. Também mostramos como os lavajatistas vazaram informação sigilosa para apoiar seus pares na Venezuela.

A reportagem já está fazendo barulho no Equador. O caso é diferente em muitos aspectos do que aconteceu no Brasil, mas as semelhanças também são inegáveis, o que nos leva a perguntar: essa é a Vaza Jato do Equador?

Vamos deixar você decidir. Há uma grande quantidade de outros detalhes surpreendentes nessa investigação que não contei aqui – é longa, mas vale a pena ler. Olha, é sábado, o que mais você está fazendo?

E quero agradecer a você e aos demais membros que apoiam o Intercept Brasil e tornam nosso trabalho possível. Sem vocês, não poderíamos nos dedicar a investigações intensivas que têm o poder de mudar a política e a história, tanto no Brasil quanto no exterior.

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