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Idade avançada do homem também pode afetar a gestação; saiba como

Da Agência Einstein, com texto de Fernanda Bassette:

Quando se fala sobre qual é a melhor idade para ter filhos, o mais é comum é pensarmos na idade da mulher e em como o envelhecimento afeta as chances de ela engravidar. Mas os riscos de ter filhos em idade avançada não se aplicam somente ao sexo feminino. Uma nova pesquisa publicada no JAMA Network Open aponta que a fertilidade masculina e a qualidade do sêmen também são prejudicadas pela idade.  

Para chegar a essa conclusão, os autores partiram da premissa de que a idade dos pais no parto está aumentando, com um número crescente de nascimentos atribuídos a homens mais velhos – e não somente mulheres. Contudo, ainda há poucos estudos envolvendo a paternidade de homens com mais de 50 anos e os reflexos disso na prole. Os autores então decidiram investigar os dados perinatais nos Estados Unidos entre 2011 e 2022, e se aprofundaram nos resultados de filhos de homens com mais de 50 anos.  

Os autores compararam os desfechos dos nascimentos de filhos de pais na faixa dos 30 e na faixa dos 50 anos. Os resultados mostram que, mesmo com o controle da idade materna e de outros fatores que podem afetar a gestação, cada aumento de 10 anos na idade paterna foi consistentemente associado a um aumento de casos de complicações na gravidez. Entre eles, risco 16% maior de parto prematuro e 14% maior de baixo peso ao nascer. O trabalho mostra também um maior uso de tecnologias de reprodução assistida para conceber — duas vezes mais probabilidade do que os pais jovens. 

Alterações genéticas 

A idade avançada do homem ainda está associada à redução da concentração, motilidade e morfologia dos espermatozoides – e isso pode levar à diminuição da qualidade seminal, com o aumento da fragmentação do DNA e o maior risco de anomalias genéticas transmissíveis ao feto. 

Outras possíveis consequências são o embrião não ter força para gerar uma gravidez ou, caso ocorra, a gestação ter menos qualidade para seguir adiante, aumentando o risco de abortamento e até mesmo de doenças no feto. 

Do ponto de vista materno, o conhecimento da ciência em torno das possíveis complicações de uma gestação da mulher em idade mais avançada está muito bem estabelecido e difundido e, por isso, pouco se fala sobre os riscos por trás da idade do pai. “A literatura tem muito mais estudos envolvendo a idade da mulher do que estudos que avaliam a idade paterna. Uma pesquisa básica no PubMed aponta 65 mil trabalhos envolvendo a idade da mulher, contra 5.000 trabalhos estudando a idade paterna. Isso explica por que existe uma conscientização tão grande sobre a idade materna e a saúde da prole, em comparação com os riscos da idade paterna”, compara Zylbersztejn. 

Para o especialista, ainda existe uma questão cultural relacionada à fertilidade masculina: o entendimento de que o homem continua produzindo sêmen por toda a vida e, por isso, pode ser pai em qualquer idade e está tudo certo. “Mas não está tudo certo. O homem, a partir dos 35 anos, começa a ter prejuízos na qualidade dos espermatozoides. A partir dessa idade também começa, lentamente, a fragmentação do DNA, que se torna mais importante a partir dos 45 anos. Embora o homem possa ainda manter o potencial de gravidez natural por longos anos, a qualidade do sêmen não é a mesma”, ressalta.  

Há estudos relacionando a idade paterna a problemas como anomalias congênitas, cânceres infantis e piores resultados perinatais. Um deles, publicado em 2018 no Journal of Assisted Reproduction and Genetics, aponta riscos relativos aumentados de várias doenças em filhos nascidos de pais acima de 40 anos: nanismo (12 vezes mais); tumor renal (2,1 vezes); retinoblastoma (5 vezes); neurofibromatose (2,9 vezes); alterações cardiológicas (2 vezes); fissura labial e fenda palatina (1,4 vez); e autismo (5,75 vezes). 

Com base nessas evidências, a Associação Americana de Urologia e a Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva recomendam aconselhar homens com 40 anos ou mais sobre esses potenciais riscos. “Temos que mudar o conceito de que só a mulher envelhece e que os problemas na gestação estão associados somente a ela”, ressalta o urologista do Einstein. “O homem também envelhece e tem limites biológicos que vão impactar na reprodução e na saúde da prole. Esse estudo [publicado no JAMA Network Open] reforça a necessidade de aumentar a conscientização dos casais que decidem ser pais em uma idade mais avançada.” 

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