Artigo da jornalista Cecília Olliveira (foto), editora contribuinte e cofundadora do site The Intercept:
Foi um dia triste para a direita radical. Uma frente popular, composta por coligações e movimentos sociais, conseguiu impedir a eleição de um líder reacionário, racista e ultraconservador.
Mas quem pensa que a ameaça acabou está muito enganado. Na verdade, os parlamentares de extrema direita aumentaram significativamente sua representatividade no Congresso, e seu avanço está apenas começando.
Estou falando da França neste dia 8 de julho, mas poderia facilmente estar me referindo ao Brasil após a derrota de Bolsonaro nas eleições de 2022.
Na França, a mídia foi fundamental para convencer o público a votar pelos valores democráticos. E um dos exemplos que eles usaram para demonstrar o risco de uma vitória da extrema direita foi o desastroso governo Bolsonaro.
Agora resta saber: será que os franceses vão relaxar diante dessa vitória progressista?
Espero que não. O novo governo está prometendo emplacar reformas contundentes para ajudar materialmente os trabalhadores e deixar claro que flertar com o fascismo não é a solução.
Aqui no Brasil, o alívio de não ter mais o inelegível como presidente deu uma falsa sensação de segurança para muita gente. Mas a mesma eleição trouxe um dos congressos mais antidemocráticos e reacionários da história, que quer impedir qualquer avanço social.
No Intercept Brasil, acreditamos que nosso trabalho é revelar quando os governos não cumprem suas promessas de ajudar os trabalhadores e, em vez disso, optam por dar esmolas a bilionários e corporações.
E, por meio da responsabilização, não apenas ajudamos a criar políticas melhores, mas também evitamos o retorno da extrema direita.
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A extrema direita é um parasita que se alimenta de um crescente sentimento de desespero na sociedade. As pessoas veem sua situação pessoal piorando e suas ambições sendo frustradas, e acreditam que nenhum dos líderes políticos tradicionais fará algo a respeito.
Então, por que não arriscar com esse cara aí que promete fazer o que for preciso para me ajudar?
Em grande parte, isso é resultado de um sistema econômico global cada vez mais predatório e desigual. Mas também é um fracasso dos líderes eleitos. Eles ficam muito presos a seus poderosos aliados políticos, que podem usar seu poder para chantageá-los e conseguir o que querem, mesmo que isso signifique trair seus eleitores.
A única maneira de lutar contra isso é criando uma pressão ainda maior no lado oposto. Isso funciona! Não acredita? Basta ver a derrota do PL do Aborto. O governo não estava disposto a lutar contra o PL com unhas e dentes e, com isso, ele avançou com urgência.
Mas depois de uma mobilização em massa de pessoas comuns, como nós, os políticos tiveram que se afastar dessa proposta perigosa e radical. É sobre isso!
Enquanto a grande mídia existe para defender os interesses dos milionários e bilionários, o Intercept Brasil existe para catalisar as lutas pela justiça. Fiscalizamos os políticos e demandamos que eles cumpram suas promessas de campanha.
Não devemos ser líderes de torcida. Temos que ser cães de guarda que protegem os interesses dos 99%.
Porque quando as coisas estão indo bem e a vida das pessoas está melhorando, todas as mentiras, o ódio e o medo – que são as armas da extrema direita – perdem seu poder.
É por isso que uma mídia verdadeiramente independente é tão importante. O único jeito de garantir essa independência é ser, como nós, financiado quase que inteiramente por milhares de pequenas doações dos leitores – em média, R$ 34 por mês.
É isso que nos dá a liberdade de fazer jornalismo sobre o que realmente importa, sem medo de incomodar multinacionais, megaigrejas, dinastias políticas, a polícia – qualquer um que queira impedir uma sociedade mais justa e igualitária.