Artigo de Joaquim Cartaxo, arquiteto urbanista e superintendente do Sebrae-CE:
A cidade conta histórias por meio de suas paisagens e edifícios, que testemunham a força do passado, compõem as realizações do presente possível, e anunciam as possibilidades dos futuros. Assim, a memória e a paisagem urbana se interconectam, conformando as identidades dos lugares e influenciando a sensibilidade das pessoas no contexto do espaço habitado.
A memória urbana une as vivências do passado às experiências do presente, mantendo viva a história de uma cidade em permanente movimento de construção e desconstrução, que depende das escolhas projetuais que se encontram no futuro. Cada edifício, antigo ou não, rua, quarteirão, bairro, espaço público exprime os períodos históricos relativos à evolução da cidade. Através da paisagem urbana, se lê a história de uma cidade; se decifra as camadas de significado e se compreende sua singularidade.
Preservar essa memória é decisivo para a valorização da identidade cultural de uma cidade. Ao conservar edifícios históricos, monumentos e espaços públicos significativos, cultiva-se a herança material, as tradições, os valores e modos de vida citadinos, que fortalecem o senso de continuidade e pertencimento dos habitantes locais e atraem visitantes interessados na cultura do lugar.
Grife-se que a manutenção da memória não é uma tentativa de aprisionar a cidade no tempo ou impedir o seu desenvolvimento. Mas, um caminho para equacionar a conservação do patrimônio cultural e as necessidades contemporâneas, que pode ser trilhado por meio de políticas que valorizem os bens culturais e incentivem a reutilização criativa de edifícios antigos, bem como a execução de programas de educação socioambiental sobre a importância da história urbana.
Há soluções que respeitam a memória citadina e, ao mesmo tempo, atendem às demandas atuais. A requalificação de bairros históricos, a integração de elementos tradicionais na arquitetura contemporânea e a criação de espaços públicos multifuncionais configuram-se como estratégias que produzem transformações urbanas sustentáveis e culturalmente inclusivas.
Valorizar a memória de uma cidade significa enriquecer sua paisagem visual e emocional, construindo espaços para além da natureza física; espaços que são testemunhas vivas do passado, do futuro, do presente; espaços habitados, onde vivem e convivem cidadãs e cidadãos.