Do economista e jornalista Osvaldo Euclides de Araújo, no site Segunda Opinião:
O Banco Central do Brasil (…) acaba de atestar, sem deixar qualquer margem a dúvidas, que perdeu todo e qualquer senso de proporção, e se apresenta como uma organização capaz de tudo, capaz de qualquer coisa.
Para um país que está com a inflação abaixo de cinco por cento ao ano, aplicar aos títulos da dívida pública (únicos títulos que têm liquidez plena e segurança total), um juro cavalar de 12,25 por cento ao ano e anunciar para os próximos 90 dias que vai subir esse juro para 14,25 por cento ao ano, está errado, é grave e exige reação.
Para se ter um ponto de comparação, lembra-se ao leitor que em 2015, quando a inflação estava acima de 10 por cento ao ano, o juro do título da dívida pública estava nos mesmos 14 por cento ao ano. Observe a desproporção, observem o exagero, observem o descompromisso com qualquer rigor técnico e qualquer nível de respeito com o dinheiro público.
O Banco Central perdeu mais do que a mão, perdeu tudo. Nos últimos meses o Banco Central demonstrou a todos que não tem o mínimo discernimento, que ele não tem a menor capacidade de estabelecer uma relação séria, equilibrada e firme na gestão das finanças públicas com o poderoso e esperto mercado de dinheiro. O Banco Central perdeu a credibilidade. Banco Central é incapaz de formular política monetária e fixar expectativas críveis, honestas e razoáveis. E isso não tem nada a ver com o déficit fiscal primário (chega desse lero-lero, chega de trololó).
Se vai agir assim, alguém tem que gritar que o Rei está nu e que o Banco Central não existe mais, vai virar apenas uma lembrança. O Banco Central pode vir a não passar de uma casa de apostas, ainda assim uma casa de apostas desacreditada.
Fica evidente agora porque a dívida cresce. A dívida cresce exatamente porque o juro é cavalar, o juro é desproporcional. Com taxa de juros em tal patamar não há superávit primário alcançável que seja capaz de dar conta de um ônus tão grande. Se o país quer controlar a inflação e não quer se submeter ao absurdo, precisa fazer um ajuste sério nos procedimentos, nos princípios e nos regulamentos que orientam e balizam a ação do Banco Central no mercado.
E observe o leitor: o Banco Central comporta-se quase que como um bêbado no mercado de juros e ao mesmo tempo comporta-se quase como um irresponsável no mercado de câmbio, lava as mãos enquanto corre frouxa uma especulação com requinte de manipulação sem qualquer justificativa, sem qualquer embasamento, sem qualquer conexão com a realidade, sem qualquer senso de proporção.
O Banco Central não consegue justificar minimamente nem a sua inação com a taxa de câmbio e nem a o seu protagonismo bêbado com a taxa de juros.
Estamos diante de um escândalo evidente e sem precedentes que não cabe mais discutir politicamente, talvez seja caso de polícia mesmo. Sim, especulação, não, mas manipulação é crime.