Artigo do economista e jornalista Osvaldo Euclides de Araújo, originalmente publicado no site Segunda Opinião:
Eleito presidente da Câmara dos Deputados, o deputado federal Hugo Motta (foto), vitorioso com 464 votos dos 513 possíveis, fez um discurso de posse surpreendente.
Jornalistas destacaram uma longa série de pontos da fala do jovem presidente (ele tem apenas 35 anos de idade) mas nenhum deles destacou, salvo melhor juízo, a proposta revolucionária que ele fez com clareza solar.
Ele falava de transparência das contas públicas (certamente refletindo a pressão que um dos ministros do Supremo Tribunal Federal está fazendo ao cobrar exatamente transparência das bilionárias emendas dos membros do Parlamento; o ministro Flávio Dino do STF não dá nenhum sinal de recuar na cobrança de que haja transparência no trato com o dinheiro público nas emendas).
O deputado Hugo Motta, agora com a legitimidade da expressiva votação que o fez presidente, falando para 498 deputados presentes no plenário, fez uma proposta, como dissemos acima, revolucionária.
Sem a preocupação de ser literal na citação, ele propôs que haja transparência completa, total, de todo o gasto de dinheiro público no âmbito dos três poderes (poder executivo, poder legislativo e poder judiciário). E diz como: basta criar uma plataforma em que todos prestem contas de todos os recursos. Com a internet e as tecnologias atuais, isso é simples, rápido e barato. E se feito com seriedade e qualidade, esta será a medida mais dura e eficaz contra a corrupção, contra a ineficiência, contra a má política e a má gestão pública. É medida saneadora, respeita a cidadania e fortalece a democracia. O efeito positivo pode ser gigantesco.
Medida de tamanha simplicidade e de tão alto impacto só houve uma no história recente. Foi quando o presidente Fernando Collor proibiu qualquer pagamento AO PORTADOR (cheques, transferências bancárias, títulos, investimentos, aluguéis, dividendos etc). A sonegação e a lavagem de dinheiro foram feridas de morte.
Pode parecer que não, mas transparência no gasto público trará efeitos espetaculares.
Bem, como gato escaldado tem medo de água fria, é justo perguntar se o deputado Hugo Mota está falando sério e vai levar a proposta adiante.
Sim, porque ele pode ter feito apenas mais um discurso vazio e a proposta seria apenas retórica.
Ou então, ele poderia estar apenas e sutilmente “ameaçando” os dois outros poderes com a transparência que o STF pressiona emenda parlamentar. Talvez ele tenha só mostrado que transparência no olho dos outros é colírio. E bota um bode na sala para negociar politicamente a sua retirada.
Será que o jovem deputado vai lutar (e brilhar) por esta revolucionária proposta ou seu discurso e sua proposta não passaram de lero-lero e trololó que caem no esquecimento no dia seguinte?
Perdoe-nos o jovem deputado por tanta desconfiança. Adoraríamos estar errados e ficaríamos muito felizes em reconhecer e pedir sinceras desculpas.
Faça acontecer, senhor Presidente!