O prefeito de Fortaleza, Evandro Leitão (PT), autorizou o tombamento da casa onde nasceu e morou o frei Tito Alencar – brutalizando pela tortura e perseguição da ditadura dos militares. O imóvel se localiza na Rua Rodrigues Júnior, 364, no Centro da cidade, e é um dos símbolos da resistência do religioso contra a ditadura e a favor da democracia. O ato foi realizado no Paço Municipal, com a presença do procurador geral do Município Hélio Leitão; da secretária da Cultura, Helena Barbosa, e de familiares de Tito.
“Hoje é dia de muita alegria: a Prefeitura de Fortaleza está tombando definitivamente a casa de frei Tito, protegendo nosso patrimônio histórico e cultural, a fim de que se evite a destruição. Frei Tito é referência para o nosso estado e para a capital. Homem de luta, que não aceitou o que estava sendo imposto”, afirmou Evandro Leitão.
Segundo a titular da Secretaria da Cultura de Fortaleza, Helena Barbosa, a casa de Frei Tito deve se tornar um memorial sobre a vida, a luta e a resistência do religioso, contribuindo para a preservação e difusão da história que ele representa.
“Com o tombamento definitivo, a gente pode fazer intervenções. A Coordenadoria de Patrimônio da Secretaria de Cultura já tem um projeto arquitetônico para o espaço, que vamos submeter a um edital do do Governo do Estado para iniciativas culturais das prefeituras. A partir disso, a gente começa um processo de reforma e construção desse equipamento. O próximo passo é implementar um projeto expográfico que também já está em estudo”, explicou Helena, ressaltando o diálogo com o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico-Cultural de Fortaleza e com os familiares do Frei Tito.
No ato de assinatura do tombamento, Lúcia Rodrigues Alencar Lima, sobrinha de Frei Tito, o reverenciou como exemplo de formador político da juventude em Fortaleza e destacou a importância do conhecimento da trajetória dele para as futuras gerações.
“Estamos num momento histórico para a luta pela memória, verdade e justiça no Ceará. Foi um compromisso do prefeito, ainda na campanha, que a casa de Frei Tito seria tombada e que, finalmente, as obras seriam realizadas. E hoje está cumprindo. Estamos extremamente emocionados, porque é uma luta muito difícil, é uma política pouco assistida, e esse gesto do prefeito mostra o seu compromisso com a memória, a verdade, a justiça e a reparação”, celebrou Lúcia.
Nildes Alencar Lima, irmã de Frei Tito, o descreveu o tombamento como um ato patriótico, que contribui para mostrar que somos um povo capaz de refletir sobre o passado e realizar as transformações necessárias. “O Tito se construiu ali, naquela rua, naquele espaço. Essa memória do Tito, que fica ali naquela casa, tem que ser uma memória viva, participativa, de fato e de direito”, destacou.
O decreto, que será publicado no Diário Oficial do Município, destaca a dimensão simbólica da antiga residência de Frei Tito, situa o imóvel no entorno e determina os critérios para a realização de intervenções.
Histórico
Em 2018, houve a promessa da gestão municipal de desapropriar o local para o tombamento definitivo do bem e construção do memorial. Após sete anos, não houve o tombamento e não foi construído o memorial. Há projeto pronto, mas a execução não iniciou.
A Comissão da Verdade Rubens Paiva realizou em 2014 audiência sobre o caso de Frei Tito de Alencar, quando houve o lançamento de livro sobre a vítima.
Frei Tito
Frade católico, Tito de Alencar nasceu em 14 de setembro de 1945, em Fortaleza. Na infância e adolescência, morava na Rua Rodrigues Júnior, 364, com os pais, Laura e Ildefonso de Alencar Lima e dez irmãos. Em 1963, mudou-se para Recife e foi eleito dirigente regional da Juventude Estudantil Católica.
Três anos depois, entrou no noviciado do Convento da Ordem dos Dominicanos, em Belo Horizonte. Mudou-se, em seguida, para São Paulo. Nesse período, foi preso, torturado com choques, queimaduras, espancamentos e afogamentos relatados em carta escrita dentro da prisão.
Exilado em um convento em Lyon (França), passou a ter surtos persecutórios e acreditava que o delegado Sérgio Paranhos Fleury, um dos mais violentos torturadores a serviço da ditadura, o estava seguindo. Tito cometeu suicídio em 1974.