Por Ricardo Kelmer (foto), escritor, editor e agitador cultural, no Blog do Kelmer:
Acho que Jesus Cristo não existiu. Mas isso não importa. O que me interessa nas religiões são as verdades psicológicas contidas em seus mitos, pois elas podem ser muito úteis a quem busca o autoconhecimento e a harmonia com a vida.
A Páscoa é a celebração da ressurreição. Na ótica da psicologia junguiana, isso significa a passagem da consciência para um novo nível, no qual a pessoa adquire uma percepção mais abrangente de si, integrando a sombra (aspectos da personalidade não reconhecidos) e se tonando mais una, equilibrada e capaz. É a morte psicológica, fundamental no processo de individuação: tornar-se “in-divíduo”, não dividido.
Mas ressuscitar não é fácil, pois é preciso morrer, e tendemos a evitar ao máximo as dores inerentes à transformação que nos conduzirá ao que verdadeiramente somos. Há outra opção? Bem, podemos adiar o momento da passagem, mas isso só prolongará o sofrimento, fazendo do cotidiano um esforço eterno e sem sentido, pois o nível em que a consciência se encontra já esgotou todas as possibilidades. Em outras palavras, já estamos apodrecidos por dentro, e enquanto isso envelhecemos e não realizamos nosso potencial.
Aguente firme a dor da passagem, seja qual for a sua. Do outro lado, há vida.