Roberto Maciel: “Nada melhor do que não plagiar nada, Rede Globo” (ou “A novela copia a publicidade”)

 

Artigo do jornalista Roberto Maciel, editor do portal InvestNE:

Não sou noveleiro. Não sei se isso é uma confissão envergonhada ou um orgulho desavergonhado. O fato que é faz bom tempo que não acompanho produções assim – excetuando-se as geniais Mar do Sertão e No Rancho Fundo, que me tocaram pelo bom humor, por temáticas nordestinas, pela capacidade dos diretores e autores de distribuir cenas e por interpretações avassaladoras.

Isso posto, reafirmando-me como um tanto alheio a esse universo, não vejo Mania de Você, novela que passa às 21 horas.

Ainda assim, passo em frente à TV, claro, e de vez em quando pesco ali cenas e vinhetas. Chamou-me atenção a abertura: um casal faz estripulias dentro d’água – algo estética e plasticamente bacana, capaz de despertar curiosidades e, quando menos, de atiçar libidos.

Daí lembrei de me perguntar: o que foi que a Rede Globo fez com a equipe do designer austríaco Hans Donner, autora de dezenas de memoráveis aberturas? Demitiu todo mundo? O pessoal se aposentou em massa? Marcas como os programas Fantástico e Planeta dos Homens e a novela Tieta, feitas por aqueles profissionais, são referências obrigatórias para quem quer destacar a qualidade dessas pequenas peças que dão início à exibição de produções. E cadê aquele povo?

As perguntas são cabíveis porque a criatividade que se expõe hoje está ao rés do chão. A isso se chama crise.

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Vi ontem Mania de Você, ressaltando aqui outra vez o casal se danando na água na abertura. Estão lá a canção de Rita Lee, na voz de Anitta, e todos os elementos que se podem julgar importantes para “vender” o produto novela.

Confira aqui:

Bacana? Nada disso. Trata-se de uma cópia não tão barata, imagino, de um comercial de 1979. A produção era da marca de jeans Ellus.

É esse:

Os publicitários apelaram, 45 anos atrás, para mais atrevimento e mais inovação. E, com muito mais ousadia e mais transparência, para a sensualidade. Usaram a mesmíssima canção, mas com a voz da autora. Associaram o “nada melhor do que não fazer nada” a fazer muito. O resultado foi chocante: pais e mães horrorizados tiravam as crianças da sala na hora da propaganda; adolescentes, extasiados, saíam da sala por vontade própria – e que vontade!

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No fim das contas, chegamos à conclusão de que a crise de criatividade da Rede Globo, que podemos chamar de “Crise Zorra Total”, é um fato. É irrecorrível e inapelável. Mas as “fontes de inspiração” estão aí, abundantes, transbordantes, todas vindas antes.

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