Em cenários de desafios e superações, o verbete “empreender” não tem sentido limitado nos dicionários. Além dos já tornados clássicos “decidir realizar” e “pôr em execução; realizar”, há significados para o verbo transitivo direto tão presente na retórica pública, nas falas da iniciativa privada, nas análises acadêmicas e no discurso político que transcendem limites de compreensão. Passando disso, chegam aos campos da transformação e do desenvolvimento.
Nesse trajeto, pequenos negócios – em geral, resultantes de experiências comunitárias e retratando demandas de oferta e procura identificadas com grupos sociais – se definem como referências para o empreendedorismo.
“As pessoas têm vontade, necessidade e precisam de apoio para empreender”, define o secretário do Desenvolvimento de Fortaleza, Samuel Dias. A soma apontada por ele se associa a estruturas e infraestruturas públicas em comunidades de bairros ou em áreas centrais urbanas. A cobrança e o acompanhamento das entidades sociais em relação a medidas assim acaba gerando um círculo virtuoso na economia, na participação popular e na qualificação das gestões.
A iniciativa “Meu Bairro Empreendedor”, da Prefeitura de Fortaleza, serve de referência para bairros da periferia como Bom Jardim, Vicente Pinzón, Pirambu, Vila Velha e Serviluz. “Ainda este ano, outros bairros vão receber requalificação urbanística e viária nas vias do comércio, para que a gente possa potencializar mais regiões da nossa cidade”, diz Samuel.
Esse ambiente se fortalece, por exemplo, em números que apontam a criação de novas empresas na capital cearense. Foram, em 2022, segundo o Ministério da Economia, 55.060pessoas jurídicas constituídas na cidade, superando com margem de 2% as 54.115 empresas formadas em 2021. Já em 2023, a Junta Comercial do Ceará registrou saldo positivo de 13.496empresas abertas no Estado no primeiro quadrimestre.
Há uma pluralidade presente nas mutações verificadas no empreendedorismo. “Fortaleza precisa se reinventar através do design e da economia criativa, investindo em capacitação, qualificação, e, sobretudo, em um empreendedorismo que valorize os nossos produtos e fortaleça a nossa identidade”, aponta o vice-prefeito e presidente do Instituto de Planejamento de Fortaleza, Élcio Batista.
É também o caso dos esforços de inclusão dos públicos LGBTQIA+, para os quais há a necessidade de convergência de uma série de fatores. “A segurança da população LGBTQIA+ também passa por um processo educacional e por um processo de incorporação das outras secretarias dentro de uma política pública para a população”, explica a secretária da Cidadania e Diversidade do Ceará, Mitchelle Meira. A ordem não é somente repor direitos negados há séculos pelo preconceito, pela violência e pelo isolamento, mas estabelecer modos que não permitam o esvaziamento de conquistas. Entre essas, as do acesso ao trabalho e à renda – seja como empregado/a ou como empreendedor/a.
Ou em propostas que visem à qualificação tecnológica das cidades e dos cidadãos, algo que pode se traduzir em inovação política e social. “Nesse sentido, é importante a universalização da Internet e da inclusão digital como pilares fundamentais para o desenvolvimento econômico e social, destacando a necessidade de se promoverem políticas públicas que garantam o acesso igualitário às tecnologias”, ressalta Acrísio Sena, presidente do Instituto Centro de Ensino Tecnológico do Ceará (Centec). E completa: “Ressalte-se o potencial da transformação digital na geração de empregos e renda, com as as oportunidades que surgem com a incorporação de novas tecnologias nos diferentes setores da economia”.
Acrísio Sena lembra que políticas públicas, como o próprio Instituto Centec, atuando como território de inovação com inclusão e com as possibilidades de empreendedorismo e inovação, especialmente entre os jovens, sustentam o necessário impulsopara o crescimento econômico e para reduzir desigualdades. Ele ressalta, ainda, o empenho pela formalização denegócios, deixando a “raia da improdutiva informalidade e acrescentando finalidades comuns e colaborativas ao trabalho”.
É aí que o verbo ganha ares substantivos.
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