Sem perder a essência de instigar o leitor a desvendar um mistério no decorrer das páginas, em O Cidadão de Bem o escritor Maurício Gomyde evidencia a polarização por meio de dois personagens principais, que, embora amigos, têm posições antagônicas e divergem em quase tudo.
Para o mundo, “Dr. Roberto” é um profissional sério e respeitado, mas em casa e nas redes sociais se manifesta como um defensor fervoroso do armamento civil, que não esconde o preconceito contra negros e homossexuais, além das atitudes elitistas. Resistindo a cidadãos como ele, o leitor conhece “Rafael”, jornalista que sonha se tornar escritor e que, mesmo tendo falhado com a família no passado, luta por um mundo mais pacífico e tolerante, não apenas para ele, mas principalmente para as filhas e as gerações futuras.
‘Você é louco, rapaz. Totalmente desconectado.
A hipocrisia reina por aqui. Papinho Poliana de gentileza.’
O sono foi embora de vez com aquela profusão de frases
que começaram a se repetir em sua mente.
Louco por achar que o mundo ainda tinha salvação?
Por sonhar que os discursos de amor um dia poderiam ser mais fácil
e rapidamente compreendidos do que os de ódio? Por imaginar pessoas
e países derrubando barreiras e usando a solidariedade como arma?
Por pregar a paz acima de tudo e o respeito acima de todos?
Gastou o resto da madrugada nessas perguntas.
Tolas, certamente, aos ouvidos de cada vez mais gente no mundo.
(O Cidadão de Bem, p. 155)
A incógnita da narrativa é revelada pelo autor em doses homeopáticas. Cada abertura de capítulo é composta por um trecho do relatório de um inquérito policial, que detalha as informações de um crime envolvendo arma de fogo. Quem levou o tiro? Quem disparou a arma? E, como o incidente ocorreu? Essas e outras perguntas são respondidas ao fim da obra, quando o leitor junta todos os fragmentos da investigação criminal.
Com protagonistas intensos e complexos, Gomyde entrelaça as vidas dos personagens, suas esposas, filhos e amigos. Nesta publicação pela Qualis Editora, o autor propõe a refletir sobre o bom e o mau indivíduo em uma sociedade cada vez menos preocupada com o coletivo.
“Há temas que não cabem por inteiro nas frases frias dos analistas. Um deles é esta polarização carregada de ódios que divide famílias, amigos e a sociedade brasileira. Maurício Gomyde, exímio contador de histórias, penetra no íntimo dessa vida nervosa para examinar seus meandros afetivos e buscar os cidadãos de bem” – Sérgio Abranches (Cientista político e jornalista).