Claudia Colares, artista plástica cearense, faz exposição em Portugal

Claudia ColaresA artista plástica cearense Claudia Colares (foto ao lado), residente em Portugal, está apresentando série de pinturas na exposição John Cabeça de Lobo. A ideia dá margem a reflexão sobre o que visa sondar o inconsciente, ou seja, lançar-se ao desconhecido a partir de um investimento que se aproxima do automatismo psíquico propagado pelos artistas surrealistas. O trabalho de Claudia está em mostra em Vila Velha (Portugal) e há negociações para chegar em Fortaleza ainda este ano. A performance se realiza, nessa fase, num registro de incertezas, dúvidas e surpresas.

As pinturas, que formam um único trabalho composto por 20 telas de 40 cm x 50 cm, podem ser pensadas como repositórios de questionamentos sobre a própria pintura. Sobre seus fundamentos. Tem, portanto, um caráter paradoxalmente mais conceitual.

Convém referir que as monocromias não nascem de um engajamento à tendência
abstracionista ou ao expressionismo abstrato, nasce segundo uma circunstância ligada à preparação do suporte, no sentido de suprimir a aridez, o vazio representado ou apresentado pela tela branca.

Ou seja, caminha no sentido inverso das correntes abstratas que visam suprimir a noção de profundidade, que reivindicam, afirmam a superfície, valorizam a platitude da tela como prerrogativa incontornável da linguagem pictórica. Que é segundo Greenberg sua vocação, sua autonomia.

Contrariando tais princípios, as monocromias criam atmosferas indiscerníveis, são profundas, Misteriosas. Sem forma, linha ou cor. Só espacialidade.
Nas pinturas abstratas o que seria platitude tornou se profundidade. Das quais podem ou não surgir figuras.

As telas abstratas se contrapõem à narrativa apresentada nas quinze pinturas figurativas que são o cerne da exposição que apresenta uma espécie de fábula: John Cabeça de Lobo que dá o título ao novo projeto de Claudia Colares. Nas pinturas “Cinza Cromáticas” o caráter é a noite, o obscuro, o desconhecido, um contexto que acaba por extravasar nas pinturas figurativas onde observamos, nas cenas domésticas, o transbordar do inconsciente, agora em imagens que conjugam fantasia e realidade. O mais íntimo e o desconhecido andam sempre juntos como ensinou Freud.

Aqui o personagem “Lobo” é uma fantasia, um fetiche, um híbrido; convém lembrar, que remete a figuras mitológicas.  Meio homem, meio animal.
O cenário, tanto nas pinturas, quanto na realidade, é a própria casa do casal Hollingdale. Que é o palco dessa alegoria.

O outro, o estrangeiro, o estranho isso implica todos envolvidos. Inclusive os visitantes da exposição. A força da natureza envolve tudo isso.
Who is John? A performance de John pulsa incertezas, como quem se arrisca no improviso da alma. E quem disse que arte precisa de certezas? No fim de tudo, tem-se a sensação de conversar com alguém que não fala — mas urra, sussurra, silva, grita em tinta. E quem sou eu para negar escuta a uma cabeça de lobo?

O Projeto John Cabeça de Lobo – o que passa na mente é o real.

A proposta deste projeto é apresentar uma exposição individual da artista brasileira radicada em Portugal, Claudia Colares. A exposição consiste em quize obras figurativas e vinte obras abstratas (óleo sobre tela) que foram produzidas no ateliê de Colares, em Portugal, no período delimitado entre os anos 2024 a 2025.

Quem assina a curadoria da exposição é investigadora, crítica de arte e doutoranda pela universidade Lusófona de Lisboa, Neusa Maria Mendes (veja abaixo o texto curatorial).

O projeto conta também com a consultoria de desenvolvimento do professor Orlando da Rosa Farya, doutor pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, . E com a produção executiva assinada pela produtora, psicóloga e publicitária Thereza Cartaxo.

(…)

O Projeto tem como principal objetivo expor para a comunidade local, estudantes, professores, gestores culturais, políticos, galeristas, colecionadores e artistas, mais uma coleção produzida, sob o encanto da Terra de Trás-os-Montes, onde Claudia Colares reside e trabalha desde 2018.

Será uma grande satisfação para o projeto, convidar toda a gente para conhecer, através das pinturas, a história de amor que sedimentou e sedimenta a cada dia a decisão de permanecer cá. A série de pinturas: John Cabeça de Lobo, traz como poética, a leitura do outro, com ênfase na consciência do que o cotidiano é capaz de revelar.

A instalação do ateliê em Pomarelhos viabilizou a percepção do potencial cultural que a atitude manifesta. Implantou-se mais um núcleo cultural na região. A presença desse aparelho viabiliza ações culturais e educacionais voltadas para a arte e o convívio entre artistas e comunidade.

Texto Curatorial

Por Neusa Mendes, pesquisadora, curadora e crítica de arte:

Tem exposições que chegam como quem bate à porta com delicadeza — e a nova série de Claudia Colares, John Cabeça de Lobo, é uma dessas. Abrirá em 24 de maio de 2025, para convidados, inaugurando as atividades do Estúdio Hoco Artwork Company. Mas não espere vernissage ruidosa ou espetáculo de luzes. Aqui, tudo opera no tom da intimidade.

A série se desdobra como um diário — não desses que se escreve correndo, mas daqueles em que cada palavra pesa, cada imagem carrega um segredo. As pinturas de Claudia não se contentam em ser belas: elas querem significar. E é nessa busca que atravessam a fronteira entre o corpo da pintura e a pele fina da escrita. Tem algo ali que se insinua, que não se diz de forma direta — como uma carta nunca enviada.

O curioso é que há também um quê de fotografia no modo como ela vê. Um olhar que não precisa de lente para captar a luz mais tímida, quase escondida, de seu John Cabeça de Lobo. E talvez seja por isso que a obra nos atinge tanto: porque não é só sobre o que está na tela, mas sobre o que escapa dela.

Claudia mesma resume isso num sopro de frase: “Através do modelo é possível sim, alcançar não somente a luz que lhe reflete a alma, avisando pra quem não sabe: a antropofagia é real”. Sim, é real. Está ali — na espessura das camadas, na intimidade do gesto, e nesse modo raro de nos lembrar que ver também é um ato de escavação: é quando a arte mora no cotidiano.

Não se trata de mostrar o que já está pronto, mas de construir — com o tempo, o gesto e a escuta — uma ponte entre o dentro e o fora. O trabalho de Claudia Colares não chega com alarde. Ele se infiltra. Se espraia. Vai do chão da casa ao olhar do outro, misturando vida e arte como quem não sabe mais onde começa uma e termina a outra.

Em Pomarelhos, tudo o que Claudia toca reverbera. Ali, o cotidiano não é cenário — é matéria-prima. Paisagens que se dobram com o tempo, histórias que se sobrepõem como pinceladas. Cada gesto seu parece carregar uma memória coletiva, uma espécie de presença silenciosa que habita o lugar mesmo quando ela não está. E talvez seja isso o mais bonito: o modo como sua arte não se impõe, mas se inscreve no tempo. Ela não pinta para mostrar técnica — pinta para que alguém sinta. Para que alguém, ao olhar, diga baixinho: “Julguei ser único nesse sentir. E aí está o milagre: transformar o íntimo em algo partilhável. Fazer da arte um reconhecimento, uma pausa, um abraço sem palavras.

A liberdade, em sua obra, não é bandeira nem discurso. É prática. É o que acontece quando deixamos cair os filtros e nos deixamos atravessar. O que Claudia constrói é essa teia delicada entre o visível e o sensível — onde cada fio liga uma casa, uma memória, um silêncio.

Brasil\outono de 2025

Compartilhe o artigo:

ANÚNCIOS

Banner-Coluna-1
Edit Template

Sobre

Fique por dentro do mundo financeiro das notícias que rolam no Ceará, Nordeste e Brasil.

Contato

contato@portalinvestne.com.br

Portal InvestNE. Todos os direitos reservados © 2024 Criado por Agência Cientz