Do site Revista Fórum, com texto de Diego Feijó de Abreu:
A engrenagem da extrema-direita global se moveu em perfeita sincronia com a tragédia no Rio de Janeiro. No exato momento em que o clã Bolsonaro utiliza politicamente as cerca de 130 mortes na megaoperação no Alemão e na Penha para ressuscitar a tese de “narcoterrorismo”, uma das maiores contas de propaganda da direita no X (antigo Twitter), a Visegrád 24 (V24), entrou em ação para fornecer a munição internacional.
Em um post viral nesta terça-feira (28.10), o Visegrád 24, que conta com 1,4 milhão de seguidores, publicou uma série de desinformações sobre a crise: afirmou que “o presidente de extrema-esquerda Lula se recusa a ajudar” e, o mais grave, definiu o Comando Vermelho (CV) como um “grupo criminoso de extrema-esquerda cujas inclinações políticas se alinharam historicamente ao PT de Lula”.

A postagem não é um erro, é um projeto. Ela fornece a justificativa ideológica exata que o clã Bolsonaro precisa para emplacar sua narrativa, como revelou nesta quarta-feira (29.10) a Fórum.
A reportagem da Fórum desta quarta-feira expôs a estratégia: Flávio e Carlos Bolsonaro usam a matança para justificar o plano de Donald Trump de classificar facções brasileiras como “organizações terroristas”. O objetivo final é permitir que os EUA realizem “operações terrestres” no Brasil, como Trump já ameaçou fazer na Venezuela e Colômbia, atropelando a soberania nacional. É o cenário que permitiria a Flávio Bolsonaro ver seu desejo de “bombardear a Guanabara” realizado por forças estrangeiras.
SANÇÕES
O governo Lula tem resistido à pressão, mas o clã Bolsonaro insiste. “Alertamos que isso aconteceria, pois estamos lidando com narcoterroristas”, postou Carlos. “Me fala se esses marginais não têm sido tratados como terroristas”, disse Flávio.
O que faltava era uma “fonte” internacional que validasse essa tese absurda de que o CV é um “braço armado da esquerda”. O Visegrád 24 entregou a encomenda.
Quem é o braço neofascista de Musk?
O Visegrád 24 não é uma agência de notícias. É um aparato de propaganda fundado pelo polonês-sul-africano Stefan Tompson (@StefanTompson). Uma investigação profunda de veículos como VSquare (Polônia) e do Centre for Information Integrity and Analysis (CINIA, África do Sul) revela a estrutura por trás da conta.
O V24 é financiado através de uma “ONG fantasma” nos Estados Unidos, a Intermarium Foundation (EIN 88-1644454). Essa fundação tem todas as características de uma operação de fachada:
Status Fiscal: Possui o status 501(c)(3) da receita federal dos EUA. Isso significa que é uma “organização de caridade” e pode receber doações com isenção de impostos. Na prática, o governo americano subsidia fiscalmente uma operação de fake news.
Diretoria: O “Board Director” listado na fundação é o próprio Stefan Tompson.
Endereço: A sede oficial (1401 Pennsylvania Ave, em Delaware) é um “escritório virtual”, um endereço de caixa postal usado por milhares de empresas para ocultar sua verdadeira localização.
O organograma da rede, revelado pelo VSquare, mostra ainda que o grupo V24/Intermarium tem conexões financeiras e políticas com o antigo governo de extrema-direita da Polônia (sob o PM Mateusz Morawiecki), incluindo o Tesouro do Estado e o Fundo de Desenvolvimento Polonês.
O “apoio” de Elon Musk
Essa rede obscura não teria alcance global sem um padrinho. Elon Musk é o principal amplificador do Visegrád 24. Embora não tenha (até o fechamento desta matéria) impulsionado o post específico sobre o Rio, Musk tem um longo histórico de “patrocinar” a conta, dando-lhe credibilidade e alcance algorítmico. Imagens de arquivo mostram o dono do X respondendo diretamente a posts do V24.
Quando o V24 postou desinformação sobre George Soros e Bill Gates, Musk respondeu: “True” (Verdade). Quando postou sobre Javier Milei, Musk engajou. Ao promover sistematicamente o V24, Musk usa seu poder como dono da plataforma para transformar uma operação de propaganda polonesa, financiada por uma ONG fantasma nos EUA, em uma fonte de “notícias” aparentemente legítima.
Não é coincidência. É uma simbiose. O clã Bolsonaro precisa da narrativa do “narcoterrorismo de esquerda” para justificar a intervenção de Trump. A rede neofascista de Tompson, com o selo de aprovação de Musk, entrega a “prova” internacional. No meio, 64 corpos no Rio de Janeiro são usados como combustível para um projeto de poder que visa “bombardear a Guanabara” e destruir a soberania nacional.


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