Artigo do Roberto Maciel: “Ciro, o velho palhaço Chacrinha, Getúlio, Brizola e o político que mandou o eleitor à merda”

Artigo do Roberto Maciel: “Ciro, o velho palhaço Chacrinha, Getúlio, Brizola e o político que mandou o eleitor à merda”

Artigo do jornalista Roberto Maciel:

“Alô, atenção!”, avisaria Chacrinha, o Velho Guerreiro (ou “Velho Palhaço”, segundo a veia poética de Gilberto Gil). “Ciro, meu filho, não dê tanto giro…”, recomendaria o apresentador antes de oferecer bacalhau para a plateia ou de mandar um calouro para as cucuias.

Pois é, bem no estilo jocoso e exagerado do apresentador de TV Abelardo Barbosa, colorido, berrante e excessivo em tudo, o ex-comentarista de futebol em rádio no Interior, ex-deputado, ex-prefeito, ex-governador e ex-ministro Ciro Gomes está se aposentando. Largando tudo. Zarpando. Chispando. Tirando os calços.

Diferentemente do fofo, amalucado, acolhedor e crítico Chacrinha e muito mais assemelhado ao prefeito de Cantagalo (RJ), que mandou o eleitorado “à merda”, não sem avisar que não precisa dele, Ciro trata a pontapés aqueles que, na visão de qualquer político que mereça a designação e a vivência nesse apostolado autêntico, seriam a razão de ser de pessoas públicas e de uma atividade nobre: eles mesmos, suas excelências, os eleitores.

Pausa para ler o que Ciro pariu na retórica tortuosa dele: “Fiz um detox. Estou tentando ver se encontro outros modos prazerosos de exercitar minha vocação. Não quero mais depender da aprovação ou da crítica sebosa de eleitor”.

Você leu certo: o filho mais invocado dos professores dona Maria José e seu José Euclides xinga, além de mulheres, os eleitores. Depois, se compara a Getúlio Vargas e a Leonel Brizola – os quais julga que sofreram isolamentos como o dele.

Ciro se engana redondamente, como há 40 anos o faz, achando-se a última bolacha do pacote: Getúlio e Brizola, se isolados tivessem sido, não teriam construídos dois partidos trabalhistas, o PTB e o PDT, que ainda hoje existem – mesmo que descaracterizados.

Se tivessem sido isolados – o que não foram, visto que o primeiro saiu da vida e entrou na História e o segundo foi exilado pelos ditadores engulhados pelo autoritarismo de 1964 -, não seria por invencionices nem por apoio gente como Bolsonaro. Nem por hostilizar mulheres.

Getúlio e Brizola não foram isolados nem se deixaram isolar. Chacrinha terminou a carreira como o ídolo que sempre foi, comandando a massa e buzinando a moça. Ciro, em oposição, perdeu o autorrespeito e a graça. Do prefeito e Cantagalo é melhor nem falar.