A Crônica da Tuty: “Pinóquio”

A Crônica da Tuty: “Pinóquio”

Texto da jornalista Tuty Osório, especial para o portal InvestNE:

Eu adorei ser mãe. Quando olhei para aquela carinha e tive certeza que tinha iniciado sua existência a partir do meu corpo, uma união de mim com outra pessoa por escolha, um milagre acontecido por vontade. Não me sabia tão potente. Com o cuidar veio um novo sentimento de força.

Mais do que poder, ser capaz de garantir a vida de um outro alguém é ser madeira brilhante, que muda de cor com a luz, que trabalha sob o estímulo do calor e do frio. Logo repeti a façanha. Veio mais uma filha e a alegria de me multiplicar ficou dobrada. Sem pieguice, sem frases feitas, não há emoção comparável. Até hoje, as duas já adultas, observo-as dormindo e sinto uma plenitude indescritível. Talvez por isso, nunca sucumbi a nenhuma superficialidade de longa duração.

Danço em festas, visto roupas da moda, ocasionalmente, arrisco maquiagem e penteados elaborados, mergulho despreocupada num bom vinho com um lauto jantar. Contudo, não me entendo com Instagram,
X que era Twiter, até o Face, um pouco mais recheado, faz-me aflição. Nunca embarcada nesses Universos, Metaversos, sei lá o que mais, não compreendo até hoje o roteiro de seu funcionamento. Quero os momentos para vivê-los, não para expô-los.

Gosto do Youtube, espaço de filmes e áudios interessantes, com conteúdos que acrescentam certezas,
dúvidas, perguntas, respostas, histórias antigas e atuais. Esse faz diferença porque vai além da capa, da aparência, da felicidade cenografada. Imagens expressam. Não são a existência em si mesmas. Nem como arte, nem como vida. Embora, arte e vida, misturem-se em mágica e virtuosa confusão de significantes e de significados.

Sei que sou radical na resistência. Não pretendo ser arrogante. Apenas sou sincera na minha perplexidade
diante de um mundo que se transfigura em postagens, mais importantes que o acontecimento que reportam. Não consigo afastar-me da concretude explosiva de minhas filhas chorando, rindo, gritando, ferindo-me a carne na descoberta do mundo. Como sabê-las pelos filtros de um aplicativo se as ganhei reais?

Se não foi pela bondade da fada que vieram em ruidosa e inequívoca chegada?