Dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA) indicam que o diagnóstico precoce do câncer bucal em pacientes com tumores iniciais, apresentam chances acima de 95% de cura. Ainda segundo o INCA, em 2024 são esperados 760 novos casos de câncer de boca apenas no Ceará. Na Rede da Secretaria da Saúde do Estado, 24 Centros de Especialidades Odontológicas (CEOs) recebem pacientes com suspeita de câncer de boca, regulados pelos municípios, para consulta, avaliação e realização de biópsia.
“Nossos CEOs estão preparados para atender qualquer paciente que apresente uma lesão suspeita de malignidade. Atualmente, estamos entregando os resultados das biópsias em um prazo máximo de 20 dias, um intervalo bem menor do que hoje é estipulado em lei federal. Em caso de positividade para câncer bucal, o paciente será redirecionado para a rede de atenção primária dos municípios (postos de saúde) que deverá inseri-lo no sistema de regulação para início do tratamento oncológico”, explica o orientador da Célula de Saúde Bucal da Sesa (Cebuc), Nalber Sigian.
Entre os principais sintomas do câncer de boca estão feridas na boca que não cicatrizam em 15 dias, nódulos no pescoço ou rouquidão persistente. “O diagnóstico precoce do câncer de boca acontece por meio de exame clínico minucioso da cavidade oral. Durante o exame, o profissional dentista deve se atentar para qualquer alteração da mucosa, como a presença de lesões ulceradas, lesões brancas ou avermelhadas e já encaminhar o paciente para o atendimento especializado dos CEOs”, afirma Sigian.
Ainda segundo o orientador da Cebuc, os Centros de Especialidades Odontológicas estaduais também realizam procedimentos mais complexos em pacientes oncológicos com outros tipos de câncer e que tiveram alguma intercorrência durante o tratamento. “Dentro do protocolo odontológico para o paciente oncológico é necessário fazer toda uma revisão dentária antes do início do tratamento para evitar que na queda da imunidade durante a quimioterapia, por exemplo, o paciente precise parar o tratamento oncológico para tratar intercorrências dentárias. Nesses casos, se o procedimento não for realizado pelo profissional do posto de saúde, o mesmo será encaminhado para nossos centros especializados”, diz.
Diagnóstico
No período de maio de 2021 a abril de 2024, dos 1.296 pacientes regulados que compareceram à Clínica de Estomatologia do CEO Centro, 225 realizaram biópsias. Destes, 31 tiveram confirmação de câncer de boca através de exames histopatológicos. “Esses dados indicam a necessidade de fortalecimento das informações relativas ao autoexame, ao diagnóstico e ao tratamento do câncer bucal”, reforça a diretora do CEO Centro e cirurgiã-dentista, Marieta Sales.
De acordo com a diretora, um dos maiores desafios do câncer bucal é eliminar o estigma ainda presente nas famílias e no próprio paciente. “Ainda existe muito preconceito contra a doença e muito medo das famílias em informar o diagnóstico para o paciente, embora hoje seja um direito do paciente conhecer o seu diagnóstico. Essa postura gera ainda muita subnotificação com relação ao câncer de boca, prejudicando inclusive nossas estatísticas”, argumenta.
A cirurgiã-dentista ressalta ainda que todos os profissionais dos CEOs estão preparados para cumprir o protocolo odontológico, bem como para identificar lesões suspeitas no decorrer de quaisquer outros procedimentos de rotina. “No CEO Centro temos dois estomatologistas (especialistas no diagnóstico das doenças da boca) disponíveis para atender todos os pacientes que são encaminhados pelos municípios com lesões suspeitas de malignidade, que serão confirmadas ou não por exames histopatológicos”, ressalta.
Pacientes oncológicos devem seguir protocolo odontológico
Pacientes oncológicos devem ser examinados por um cirurgião-dentista assim que descobrem a doença. A quimioterapia e a radioterapia, tratamentos contra o câncer, são capazes de trazer inúmeros efeitos colaterais na cavidade oral, como ulcerações, infecções, hemorragias e outros problemas. Quando essas adversidades não são cuidadas da forma adequada, provocam dificuldades nutricionais, sociais e emocionais, afetando a qualidade de vida desses pacientes e interrompendo o tratamento oncológico.
O tratamento prévio em pacientes oncológicos inclui exame clínico, avaliação radiográfica, tratamento de inflamação nas gengivas, selamento de lesões e cáries, correção de próteses e troca de restaurações. O acompanhamento do profissional de odontologia com a equipe oncológica deve ser feito também nas fases aguda, imunossupressão, internação hospitalar e nas etapas de melhora e doença assintomática.
A última etapa do protocolo odontológico para pacientes oncológicos é o pós-tratamento. É comum que aqueles que passaram por diversos procedimentos agressivos apresentem problemas na saúde bucal. Por isso, após se recuperar, eles precisam passar por uma avaliação no dentista para identificar possíveis problemas.
Sesa realiza capacitação com profissionais das unidades básicas de saúde
Com o objetivo de atualizar profissionais de odontologia das unidades básicas de saúde e dos Centros de Especialidades Odontológicas (CEOs) regionais, a Saúde do Ceará vem realizando uma série de capacitações sobre diagnóstico de câncer de boca e fluxo assistencial, nas regionais de saúde da Sesa. A primeira capacitação aconteceu em novembro de 2023, no Hospital Regional Vale do Jaguaribe (HRVJ) que atualmente é referência para o tratamento oncológico na Região Leste/Vale do Jaguaribe e teve seu serviço de oncologia inaugurado no final do último mês de setembro.
A ação é promovida pela Coordenadoria das Redes de Atenção à Saúde (Coras) em parceria com as Superintendências Regionais de Saúde, através da área técnica de Saúde Bucal. O treinamento trata, dentre outros assuntos, da abordagem clínica do câncer de boca durante o diagnóstico, do cuidado com o paciente oncológico, da epidemiologia do câncer bucal e a Rede de Atenção e do acesso do paciente ao serviço hospitalar. Além dos profissionais da Região Leste/Vale do Jaguaribe, já foram capacitadas as equipes da Região Norte e Sertão Central.