A curtida criminosa e golpista do Heleno, generaleco de estimação do Bolsonaro

Texto de Paulo Montoryn, do site Theo Intercept:

9 de Janeiro de 2023. A Praça dos Três Poderes ainda estava destruída quando eu noticiei que o general Augusto Heleno, ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional de Jair Bolsonaro, havia curtido uma postagem de teor golpista no Twitter no dia anterior, exatamente no horário dos atos antidemocráticos que ocorreram em Brasília.

A publicação implorava pela “ajuda” de Heleno aos bolsonaristas. Um dos trechos da mensagem curtida pelo militar dizia: “Sermos pacíficos não adiantou”. Essa interação, embora aparentemente insignificante e ignorada pela Polícia Federal na investigação sobre a tentativa de golpe de estado, agora chegou à universidade.

O pesquisador Vinícius Vargas Vieira dos Santos, da Universidade Estadual do Mato Grosso, a Unemat, publicou um artigo científico na Revista Linguagem em Foco, da Universidade Estadual do Ceará, em maio deste ano, se debruçando sobre o caso, refletindo sobre como as ações nas redes sociais possuem impacto na esfera pública.

Segundo ele, o ato de “curtir” uma postagem em plataformas como o Twitter não pode ser compreendido como uma mera expressão pessoal, mas um ato performativo que pode influenciar um grande número de pessoas devido aos algoritmos que amplificam tal interação.

No caso do like de Heleno, foi exatamente isso que ocorreu. Na tarde de 9 de janeiro, o comentário de Ana Margoni tinha 64,5 mil visualizações, 41 retweets e 549 curtidas – um número muito superior ao padrão de alcance de comentários públicos em postagens de Heleno.

“Em um perfil de Twitter como o de Augusto Heleno, seguido, na data desta publicação, por mais de 2 milhões de usuários, algo aparentemente banal como ‘curtir’ determinado conteúdo de terceiros pode se desdobrar em uma larga escalada no volume da audiência de um enunciado”, diz o artigo.Santos argumenta que as redes sociais têm o poder de moldar o discurso público ao determinar quais mensagens são amplificadas. Dessa forma, o pesquisador argumenta que Heleno, com seu like, pode ter atuado intencionalmente para potencializar uma narrativa golpista e incitar ações antidemocráticas.

“Quando o ex-ministro, com mais de 2 milhões de seguidores, aciona o botão de curtida, espraia-se em escala de big data o conteúdo veiculado por outro usuário da rede”, escreve o pesquisador.

O acadêmico ressalta que, em ambientes digitais, cada interação pode ser analisada em termos de seus “efeitos ilocucionários e perlocucionários” – ou seja, a intenção por trás do ato de fala e o efeito que ele tem sobre o público.Até o momento, o like do general tem passado à margem das investigações sobre um possível golpe de estado. Mas, na CPI da Câmara Legislativa, o deputado distrital Fábio Félix, do PSOL, chegou a perguntar a Heleno sobre o caso.

O general confirmou que somente ele que tem acesso à sua conta no Twitter, mas disse não se lembrar da fatídica curtida. Mesmo assim, Félix disse que a curtida não era apenas um apoio silencioso, mas um ato que possivelmente contribuiu para a escalada dos acontecimentos violentos de 8 de janeiro.

“Pode parecer uma coisa sutil, mas o Twitter é uma plataforma de rede social que toda vez que se curte uma mensagem, ela é entregue para um grande volume de pessoas, imagina um [ex]ministro de estado”, disse o deputado distrital. É exatamente o que, agora, também diz a academia. Não parece que é o que dirá a Justiça.

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