Cruzar o Brasil sobrevoando mais de 4 mil quilômetros para proteger e salvar vidas. Esse objetivo guiou as equipes da Coordenadoria Integrada de Operações Aéreas (Ciopaer), da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social, que atuaram na missão humanitária no Rio Grande do Sul, concluída na última sexta-feira (14.6). Os agentes foram recebidos pelo governador Elmano de Freitas nesta terça-feira (18.6), no Palácio da Abolição, em Fortaleza. O coronel-aviador e coordenador da Ciopaer, Darley Oliveira, e o coronel Hélio de Alencar Filho também estiveram presentes.
O governador parabenizou os militares e destacou o sentimento de orgulho do povo cearense. “Temos com esses agentes a noção concreta do que é ser herói, pessoas que fazem isso por uma decisão de vida. Eles atravessaram quilômetros e quilômetros para chegar a um lugar distante, com clima e cultura diferentes. O povo cearense tem muito orgulho da Ciopaer, que tem profissionais qualificados e com a paixão de servir às pessoas. Antes de ser Ceará, nós somos Brasil”, afirmou Elmano de Freitas.
Ao todo, foram enviados 15 agentes, distribuídos em 3 tripulações com cinco homens, entre pilotos, operadores aerostáticos e mecânicos. As equipes se revezavam a cada 15 dias. Essa foi a missão mais distante realizada pela Ciopaer em toda a história da Coordenadoria.
“Inicialmente, as ações realizadas pelas nossas equipes e aeronave eram de Defesa Civil, resgate de pessoas ilhadas em diversas regiões, bem como levar mantimentos para diversas regiões. Quem ficou responsável por coordenar a missão foi a Brigada Militar lá do Rio Grande do Sul. A gente atendia às solicitações que a Brigada nos passava”, explicou o coronel aviador e coordenador da Ciopaer, Darley Oliveira.
A primeira tripulação embarcou no dia 7 de maio a bordo da Fênix 03, aeronave da Ciopaer também destacada para o trabalho com foco no Vale do Taquari. O regresso da terceira equipe, no dia 14 de junho, foi marcado por um desembarque emocionante.
Voar para proteger e salvar
Com 30 anos de serviços prestados, o tenente-coronel PM Ribamar Feitosa, responsável por comandar a primeira tripulação, relata nunca ter passado por algo semelhante. As adversidades, segundo ele, começaram ainda no deslocamento por causa das condições climáticas severas das regiões Sudeste e Sul.
“Sabíamos da situação complicada que o povo gaúcho estava vivendo. Quando lá chegamos, o que vimos era estarrecedor, cidades inteiras cobertas por água. Eu me senti muito gratificado por ter sido escolhido. Foi a operação da minha vida. Ficará marcada até os meus últimos dias”, sublinha.
Ao saber que o Governo do Ceará iria enviar equipes e aeronave, o subtenente PM e operador aerotático Carlos Eduardo Moreira revela que se prontificou de imediato. “Estava indo buscar meu filho João Pedro no colégio e disse a ele: o governador vai mandar aeronave, teu pai vai cumprir a missão. Ele respondeu: ‘ei, pai, é por isso que eu te amo. O senhor está sempre preparado’. Quando o comandante ligou, eu já estava com a mochila pronta”, conta emocionado.
Para o major PM Elton Oliveira, que comandou a segunda tripulação, as lições aprendidas em meio à tragédia ensinam muito sobre união e esperança. “Eu vi uma cidade inteira devastada. Mathias Velho, bairro de Canoas, parecia coisa que a gente só via em filme americano, aqueles tornados. Quando a água baixou, era uma completa destruição. Mesmo assim, as pessoas tinham muita esperança e agradeceram por termos saído de tão longe para ajudá-los”, recorda Elton.
O tenente-coronel BM Emerson Bastos, e comandante da terceira tripulação, ressalta que a todo momento a missão era executada com dedicação e empatia. “Uma coisa é você ouvir as histórias, outra coisa é olhar nos olhos daquelas pessoas, presenciando tudo aquilo. Isso nos torna mais próximos aos anjos de Deus”, lembra.
A terceira tripulação participou, no dia 6 de junho, de um transporte múltiplo de órgãos no Rio Grande do Sul. A equipe fazia o patrulhamento aéreo preventivo policial na região, quando foi acionada para ajudar na captação de um coração, um fígado e dois rins no Hospital das Clínicas de Passo Fundo. Os órgãos foram direcionados para a cidade de Canoas.
“Esse sentimento aflora nosso lado humano e faz com que a gente ressignifique alguns conceitos, como agradecer. O simples fato de agradecer o que tenho, o que temos. Às vezes, somos muito injustos com nós mesmos”, conclui o tenente-coronel Emerson.