Texto do jornalista Roberto Maciel, editor do Portal InvestNE:
Transformada numa das figuras das mais exóticas e sombrias que perambulam na Câmara dos Deputados, a parlamentar catarinense Júlia Zanatta (PL, foto) escreveu sobre o indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro por furto de joias: “Sem se dar conta, o judiciário está tornando Bolsonaro ainda maior, pois está criando, na minha visão, uma aparência de perseguição escancarada e desesperada”.
Júlia diz que é advogada, embora tenha se feito conhecer como gerente de estande de tiro onde os filhos de Bolsonaro treinavam e onde também havia se matriculado o desocupado Adélio Bispo, que teria atacado o então candidato do PSL ao Planalto em 2028, em Juiz de Fora (MG).
Ela costuma ostentar nas mãos rifles ameaçadores e, na cabeça, guirlandas que adversários dizem ter sido características de moças germânicas admiradoras de Adolf Hitler.
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O leitor e a leitora decerto repararam para o detalhe do termo “na minha visão”, que grifamos no parágrafo inicial. É demonstração de que o que ela diz nem ela mesmo tem certeza. Não há leitura absoluta, irrecorrível e técnica. É avaliação pró-forma, feita apenas para constar, só isso. E, para não deixar dúvida sobre a inconsistência da fala, Júlia complementa: “O brasileiro se solidariza com quem pode estar sendo injustiçado”. Você leu certo: “Quem pode estar”, não “quem está”.
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Júlia Zanatta é aquela que publicou nas redes sociais fotos em que aparecia armada e usando uma camiseta com o texto “Come and take it” (“venha e tome isso”, em inglês), com uma mão com quatro dedos desenhada (que não é a do colega dela Paulo Bilinski, o ex-delegado que trocou tiros com a namorada, que teria se suicidado após o entrevero). A imagem está no alto desse texto.
Foi a ela que a deputada Erika Hilton (Psol-SP) chamou de “feia” e “ultrapassada” numa atividade em comissão.
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O problema maior para Jair Bolsonaro não é a oposição, que lhe tem sido inclemente, mas a incapacidade de aliados construírem argumentos razoáveis para ampará-lo no caso das joias – que envolveu militares de alta patente, como almirantes e coronéis, e até aviões da FAB. Isso é, de fato, preocupante para quem deseja uma direita direitinha.
Há como comparar a situação de Jair com a de Lula, quando este passou 580 dias preso por ordem de Sérgio Moro e de Deltan Dallagnol? Nem de longe. O caso Lula, com tantos e tão graves delitos de conduta do então juiz e do então procurador, acabou – como a História registra – humilhantemente anulado por corte superior.
Deputados estaduais cearenses têm sido, para usar aqui uma expressão suave, muito contidos ao tratar do delicado e espinhoso assunto. Carmelo Neto, Reginauro Souza, Eduardo Girão, Marta Gonçalves e André e Alcides Fernandes não moveram uma palha sequer nas tribunas para defender o líder.
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Reconheça-se: não parece ser fácil.