A crônica de Tuty Osório: “Naquela mesa”

A crônica de Tuty Osório: “Naquela mesa”

Texto da jornalista Tuty Osório:

Ficaram amigos. Conheceram-se num restaurante que fazia de bar, daqueles botecos na esquina de casa. Um botecão. Servia carne do sol, mandioca frita, cerveja gelada, uísque a bom preço.

Um português e um piauiense. Um uísqueiro e um cervejeiro. Evoluindo os papos, descobriram que tinham mais em comum que os amigos reunidos em início de noite, curtindo a aposentadoria. Um era meu pai. O outro pai de uma grande amiga minha.

Trocando história e ideias, revelaram, um ao outro, as filhas que escrevem. Eram fãs. O pai da amiga, também professor de português, entre diversos ofícios, orgulhava-se de nunca ter encontrado um reparo a fazer no texto da filha. Meu pai, bancário de carreira e escritor do lar, reparava com desconfiança o meu
estio, embora admirador das minhas transgressões e sínteses. Lembraram que já se tinham visto e conversado antes. Em acontecimentos relativos às filhas amigas. Foi com alegria que nos revelaram a camaradagem, conquistada em torno daquele relaxamento justo de quem tem tempo, depois de muitas lutas.

Partiram com uma diferença de um ano, um do outro. Primeiro meu pai, em janeiro de 2021. Depois o pai da amiga, em março do 2022 seguinte. Hoje é o dia deles. Na pauta do comércio, que termina sendo um pouco a nossa, haverá reuniões, presentes e homenagens.

Como é difícil desapegar desse lugar comum que é o amor. Como todos os dias, em especial aos domingos, no burburinho dos encontros, estão faltando eles.

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Tuty Osório é jornalista, especialista em pesquisa qualitativa e escritora.

São de sua lavra QUANDO FEVEREIRO CHEGOU (contos de 2022); SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA (quadrinhos com desenhos de Manu Coelho de 2023) e MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE MARIA AGUDA, dez crônicas, um conto e um ponto (crônicas e contos, também de 2023).

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SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA
QUANDO FEVEREIRO CHEGOU
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