Artigo do jornalista Roberto Maciel:
Coach nas redes sociais, especialista na prática de vender cursos – inúteis, diz-se – sobre como fazer milhões de reais, misto de animador de auditório, apresentador de palestras motivacionais e pastor pentecostal, o goiano Pablo Marçal é, definitivamente, o nome de maior projeção na cena eleitoral do Brasil inteiro neste 2024.
Candidato do PRTB a prefeito de São Paulo, Marçal empreende uma campanha em que xinga o finado pai da adversária Tábata Amaral (PSB), acusa sem provas Guilherme Boulos (PSol) de ser usuário de cocaína e acena contra José Luiz Datena (PSDB) e Ricardo Nunes (MDB) antigos processos judiciais por assédio sexual e violência doméstica.
Marçal tenta, e até conseguiu, já, levar um supetão, um tapa ou uma cadeirada. Quer se fazer de vítima induzindo os oponentes à agressão física dele próprio.
Mas o mistificador da Internet, que já foi até condenado na Justiça por integrar uma quadrilha de criminosos que roubava idosos em golpes contra bancos, não está fazendo nada de novo.
Nos idos de 2003, um sujeito chamado Rodrigo Scarpa, metido a humorista, encarnava o personagem “Repórter Vesgo” no programa Pânico na TV e provocava celebridades e sub-celebridades até conseguir um tapa, um murro ou um empurrão (como no vídeo acima, que mostra o ator Vítor Fasano perdendo as estribeiras). Saía sempre rindo e debochando, certo de que estava levando ao público o que o público queria, assim como de que estava oferecendo ao faturamento comercial do show de televisão alguns bons trocados.
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Corta para 2013. Naquele ano, quando começavam a explodir nas ruas manifestações contra o governo da presidenta Dilma Rousseff (PT), um elemento de nome Arthur do Val, integrante de um ajuntamento chamado “Movimento Brasil Livre” (MBL) passou a se apresentar na rede YouTube como agitador de massas e questionador.
Do Val, vulgo “Mamãe Falei”, cercava políticos em locais públicos e os constrangia. Vez por outra conseguia o que queria e levava uma pancada – Ciro Gomes, ex-governador do Ceará e ex-ministro, foi uma das vítimas da estratégia de “Mamãe Falei” (vídeo abaixo). Levar uma canelada ou um bofete era o máximo de felicidade para os alegres rapazes do MBL.
Conseguiu, assim, se eleger deputado estadual em São Paulo sob a sombra do bolsonarismo, sendo cassado tão logo se descobriu que ele havia viajado à Ucrânia, país em guerra com a Rússia, em busca de se dar bem sexualmente com as mulheres de lá.
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Corta para 2021. Ganha visibilidade nas redes sociais e nas plataformas de vídeos um coach chamado Pablo Marçal. Não por feitos inteligentes, mas por levar um grupo de seguidores à beira da morte numa montanha em São Paulo, o Pico dos Marins. Sem planejamento nem condições de sobrevivência, o pagantes foram expostos ao frio intenso e à chuva e se viram perdidos e sem comida. Tiveram de ser resgatados pelos Bombeiros; todos sobreviveram.
Acabou procurando ser candidato a presidente da República, mas não conseguiu manter a candidatura por ter infringido a lei. Depois, tentou ser deputado e até conseguiu ser eleito, mas, mais uma vez tendo desrespeitado as regras, perdeu o mandato.
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Antes de todos, porém, ele copiou o estilo de Jair Bolsonaro – o de quem se apresentava como corajoso “anti-sistema”, “não-político”, um outsider que se opunha com valores e fundamentos firmes a todos os que corrompiam o País e as pessoas.
Jair Bolsonaro vai minguando pouco a pouco, sendo o único presidente após o instituto da reeleição que não conseguiu se eleger. Já passou para a história como quem viabilizou a morte de 700 mil brasileiros em decorrência da covid-19 e caminha célere para ser conhecido também como contrabandista de joias.
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O roteiro, como se nota, estava todo escrito: Pablo Marçal não inovou como provocador nem como agente político. Apenas copiou outros que têm conteúdos políticos e morais muito próximos do dele.
O que conseguiu de novidade foi conduzir à margem da tragédia um grupo de ignorantes que acreditou nele.
Agora, quer fazer o mesmo com São Paulo, os paulistanos e o Brasil.