Roberto Maciel: “A Polícia está doente, mas não se sabe se há remédio para curá-la”

 

Artigo do jornalista Roberto Maciel, editor do portal InvestNE:

A Polícia está doente, muito doente. Sempre esteve, aliás – o romance clássico “Memórias de um Sargento de Milícias”, da década de 1850,  já mostra isso. É a moléstia da impunidade. Ocorre aqui, ali e alhures. Ceará, São Paulo, Bahia, Pernambuco, Sergipe e todos os demais estados estão acometidos pelos graves sintomas da impunidade. É uma doença que mata – nem sempre o paciente, mas muitas vezes quem está nas proximidades dele ou é alcançado por ele.

O que se viu em São Paulo nos últimos dias, onde um policial jogou de uma ponte um rapaz e onde outro crivou com 11 tiros as costas de uma vítima que havia furtado sabão num mercadinho, não está muito distante das chacinas como a do Curió, em Fortaleza, protagonizadas por PMs.

Essa polícia, que já espalhava sistematicamente terror no Ceará havia mais de 40 anos, com o agora extinto (ainda bem!) comando militar COE, com delegados civis midiáticos, barulhentos e ineficientes, sempre esteve doente. Os casos são muitos, incontáveis, atravessam a ditadura dos militares e chegam ao quase-golpe cometido por Jair Bolsonaro e asseclas.

Polícia que não atende à comunidade, ou que só prende e mata pretos e pobres, que se desvia do dístico quase universal “para proteger e servir”, não presta para nada. Precisa ser apagada e redesenhada. Começar do zero, com conceitos e princípios decentes.

No entanto, há dois pilares sobre os quais se sustenta a doença que acomete a polícia: a Imprensa e a política. Ambos oferecem a policiais moralmente e tecnicamente deformados (e não são todos, claro!) a impunidade com a qual se cobrem para fazer o que fazem. Transformar policiais em super-homens, nunca assegurando a eles os devidos tratamentos de saúde, inclusive mental, é o mesmo que criar batalhões de incontroláveis homens-bombas, prontos a explodir o mundo – a soldo do Estado – quando bem entenderem.

A Imprensa e a política não se preocupam com isso.

Nos últimos anos, assistiu-se a um dantesco desfile de patentes de cargos nas casas parlamentares. “Delegado”, “inspetor”, “tenente”, “capitão”, “sargento”, “cabo”, “soldado” são nomes referenciais que muitos usam para se eleger – usam com propriedade, reconheça-se, porque os identificam social e profissionalmente – e deambular nos corredores do poder. Há exemplares desses nas principais casas parlamentares.

Alguns se tornaram ídolos populares sem de fato merecerem tal reconhecimento. Mostram-se em canais no YouTube e em outras redes sociais como justiceiros, bravos, corajosos, capazes de desafiar a lei se é para fazer valer o direito de alguém. Gente como Gabriel Monteiro, Paulo Bilynskyj e Da Cunha até conquista privilegiados espaços políticos.

Viu-se, antes, até, um capitão conspirador do Exército chegar a parlamentos e à Presidência da República cavalgando uma besta-fera de rancores e frustrações e proferindo ameaças contra as pessoas e a Democracia.

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Ninguém se espante se em belos dias de outubro o psicopata que jogou a vítima da ponte se eleger vereador, deputado federal e presidente.

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