A Coluna do Roberto Maciel (sábado, 1.3): Proteção divina não basta?

• O deputado estadual Luiz Henrique (Republicanos), que se denomina “apóstolo”, precisa rever os conceitos que tem de fé e confiança em Deus. A folga no carnaval pode até ajudar nas reflexões. Ele está propondo, como parlamentar – pago com dinheiro de todos os cearenses, claro -, que a Polícia Militar institua serviço ao qual já cuidou de batizar: “Ronda da Fé”. “Será uma atividade policial ostensiva, voltada à segurança do entorno das igrejas”, explica no texto. Na crença de Luiz Henrique, não há de ser suficiente a presença de bíblias: “A atuação dos policiais militares na segurança armada nos perímetros da fé será regulamentada por ato do Poder Executivo”, acrescenta. O apóstolo está, na verdade, tentando acender vela para um episódio trágico, o assassinato da universitária Natany Alves Sales (foto) em Quixeramobim, no último dia 16. É oportunismo em alto grau – algo pecaminoso, até. Natiany foi morta a pedradas por três criminosos que queriam roubar e vender o carro dela. A vítima havia saído pouco tempo antes de um culto evangélico.

Quetinho
Antes da brutalidade contra Natiany, Luiz Henrique nunca dera um pio sobre casos de violência no entorno de igrejas. Também nunca falou de riscos nas proximidades de bancos, farmácias ou escolas. O deputado é o mesmo que assinou projeto exigindo que o Governo do Estado disponibilizasse bíblias em escolas públicas. O Palácio da Abolição acabou cedendo.

Tenham fé
O projeto de Luiz Henrique, o vulgo “apóstolo”, não faz menção nenhuma a terreiros de religiões de matriz africana e centros espíritas. Esses que se virem com Deus?

Oportunismo
Quem também tentou surfar na tragédia foi o deputado federal André Fernandes (PL). Ele chegou aparecer numa manifestação em Quixeramobim. Levou na bagagem oportunismo e hipocrisia – André, bolsonarista que se orgulha de ser contra qualquer motivação civilizatória, se fez conhecer por uma tão famosa quanto reprovável fala: “feminicídio? dane-se!”

Não dá para calar
Do deputado De Assis Diniz no plenário da Alece: “Nós, do PT, que lutamos contra a ditadura militar, não podemos nos calar. Não existe a opção pelo silêncio. Se esse golpe tivesse ocorrido, não estaríamos aqui. Estaríamos vivendo um momento autoritário, à semelhança de ditadura Vargas de 1937 ou do golpe militar de 1964”.

Silêncio ensurdecedor
A fala de De Assis não foi contestada pela extrema-direita. Nem os bolsonaristas cassados pelo TRE e que recorrem da decisão no TSE ousaram questioná-lo. Carmelo Neto, Silvana Oliveira, Alcides Fernandes e Marta Gonçalves caladinhos estavam e caladinhos ficaram. Outros, como Heitor Férrer e Reginauro Souza, também não deram um pio.

Origens
O Ceará obteve mais um elemento referencial em educação pública. Com a sanção da lei que estabelece gratificação por dedicação exclusiva aos gestores de escolas indígenas, o Estado avança significativamente no setor. Mais, até: segundo o governador Elmano de Freitas, deve ser encaminhado ainda neste ano à Alece o Plano de Cargos e Carreiras para o ensino indígena.

Unidos da Papuda
O Carnaval, que esquenta neste sábado, terá festa na Papuda (acima)? Não precisa responder: é só curiosidade de quem não é da folia.