Por Tuty Osório, jornalista e escritora:
De vez em quando acredito de verdade que caminhamos. Que a vida da mulher hoje é diferente da época das minhas avós. Mercado de trabalho, novas formas de maternidade com maior envolvimento dos pais, dá para sentar só numa mesa, em alguns restaurantes. Não sei o que dizem nas minhas costas.
Como me julgam, se me compreendem, incluem, aceitam, admiram. Uma mudança interessante é que de fato não ligo para o que dizem. Talvez nunca tenha ligado, Tempos atrás, não tinha tanta convicção. Agora não ligo, mesmo. Diziam minhas ancestrais que não se deve mostrar toda a fralda da camisa. Significa que a mulher deve dissimular, um pouco. Esquecida do dito, confesso aqui que não me importo…
Recebo mensagens fofas. Cor de rosa, com corações, flores. Outras mais duras, lembram que a data é a 8 de março porque foi o dia que, no século XIX, confinaram mulheres num incêndio de uma fábrica e, elas, morreram queimadas por impossibilidade de escape. Foram punidas por reivindicar, por gritar, por considerar que, quem sabe, deveriam ter diretos. Século XXI e não os temos, nem os sabemos, contudo.
Virou uma confusão de sentidos, armas, duelos, retóricas, muitas imbecilidades ditas. Mais, ainda, ditas imbecilidades proferidas como máximas elevadíssimas. Cecília Meireles sentia medo de não mais sentir, de tanto entender. Sinto medo de não mais entender o que se passa. Se peço aos dias que me deixem, ou se os abraço, sem resistência, porque nada sou sem passá-los.
Ana Cristina César (acima( ou Sofia de Melo Breyner? Lar íntimo, lar multifacetado. Quantas somos, como, quando, e isso importa? Mulheres de terno, de calças, cabelos curtos, asas penadas, brilhos resgatados. Podemos, sim, ser o que quisermos, nos limites da humanidade sem rumo. Trajes mínimos, mantos tecidos em vidrilhos, reflexos em profusão.
Diziam os modernistas que era imperativo inovar. Dizemos nós, as pós-tudo, que nada é melhor que viver sem mentir.
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Tuty Osório é jornalista, especialista em pesquisa qualitativa e escritora.
São de sua lavra QUANDO FEVEREIRO CHEGOU (contos de 2022); SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA (quadrinhos com desenhos de Manu Coelho de 2023) e MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE MARIA AGUDA, dez crônicas, um conto e um ponto (crônicas e contos, também de 2023).
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SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA
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Em dezembro de 2024 lançou AS CRÔNICAS DA TUTY em edição impressa, com publicadas, inéditas, textos críticos e haicais.