Os mercados estão fervilhando, assim como os cenários políticos. Amanhã será mais uma “Super Quarta-Feira”, como se convencionou chamar as datas que somam anúncios de medidas econômicas pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O Portal InvestNE traz a seguir entrevista com Marcello Carvalho (foto abaixo), economista da empresa WIT Invest, sediada em São Paulo, sobre as expectativas do mercado financeiro para as medidas que resultarão da Super Quarta. A taxa Selic é um dos indicadores mais aguardados. Confira:
- Quais são as expectativas do mercado para a decisão do Banco Central brasileiro em relação à taxa Selic na próxima Super Quarta?
Devido a aceleração que tivemos da inflação e de algumas casas já projetando a inflação fechar a mais de 6% em 2025, a expectativa é de um aumento de mais um ponto percentual na taxa de juros brasileira.
- Quais são as expectativas para a decisão do Federal Reserve sobre os juros nos Estados Unidos? Como ela afeta os investidores brasileiros?
Nos EUA a situação é diferente da apresentada no Brasil. Enquanto os brasileiros esperam que sua taxa de juros suba, os americanos já esperam uma manutenção da taxa de juros divulgada pelo FED na banda de 4,25% a 4,5%, isso por conta dos últimos dados de inflação e das incertezas que a guerra tarifária está gerando no mercado. Para o Brasil é um cenário confortável, uma vez que, com a taxa brasileira aumentando enquanto a estadunidense permanece estável, devemos ter uma entrada de dólares para aproveitar os juros mais elevados.
- Como a política econômica do governo de Donald Trump e suas decisões recentes podem influenciar a postura do Fed e do mercado global?
A política do governo de Trump pode ajudar ou piorar o mercado dependendo de quanto efetivamente vai aquecer a economia do gigante da América ou se somente gerarão impacto temporário na inflação. Tais pontos são levados em consideração pelo FED, mas não necessariamente já gerarão impacto nesta reunião.
- Como o comportamento do dólar frente ao real, impulsionado pelas decisões do Fed, pode afetar a economia brasileira e os investimentos?
Com a manutenção dos juros pela parte do FED, pode ajudar com um maior fluxo de câmbio para o Brasil, o que reduzirá o dólar temporariamente, reduzindo temporariamente a inflação brasileira. Com isso, podemos ter um ambiente mais estável, mesmo que por um período de tempo curto.
- Quais setores da economia ou tipos de investimentos podem se beneficiar ou sofrer com as decisões anunciadas?
Os principais setores impactados são os que estão atualmente muito alavancados, como o segmento do agronegócio e imobiliário. O maior problema que isso pode piorar é em questão das recuperações judiciais, uma vez que o patamar de juros elevados da forma com que estão tem prejudicado de maneira drástica o pagamento das dívidas das empresas.
- Quais estratégias podem ser consideradas pelos investidores em um cenário de maior volatilidade causada pelas decisões simultâneas dos bancos centrais?
A melhor estratégia a ser adotada nesses momentos é a diversificação, isso porque auxiliará a manter um rendimento considerável, mesmo com a volatilidade atual. Outra estratégia a ser usada é a de ter caixa para aproveitar as oportunidades do mercado que surgirão após as reuniões.
- Existe algum risco de surpresas nas decisões do Copom ou do Federal Reserve? Como o mercado pode reagir a isso?
O risco de surpresa sempre existe, mas não será bem recebida pelo mercado. Com decisões políticas afetando de forma drástica o lado fiscal de ambos os países, uma surpresa com fundamentos fracos pode derrubar tanto a bolsa brasileira quanto as bolsas americanas.
- O aumento dos preços do petróleo e de outras commodities pode levar o Copom a adotar uma postura mais conservadora?
O aumento dos preços das commodities pode forçar o Copom a repensar e possivelmente estender as altas de juros. Entretanto, devido as últimas notícias sobre aumento de produção de petróleo e elevados estoques dos EUA, dificilmente teremos pressão vinda do segmento energético.
- O dólar tem mostrado volatilidade nos últimos meses. Como as decisões do Fed e do Copom podem impactar o câmbio e a atratividade de investimentos no Brasil?
Conforme mais a taxa de juros brasileira aumenta e a norte-americana cai ou se mantém estável, mais o Brasil se torna atrativo para investidores que buscam retornos em rendas fixas, dessa forma, fomentando a entrada de dólares na economia. Pelo lado cambial, este aumento nos juros deve ajudar a reduzir o preço do dólar no Brasil.
- O desempenho da bolsa brasileira tem sido influenciado por quais fatores? Como a decisão do Copom pode afetar o apetite dos investidores pelo mercado financeiro nacional?
A bolsa brasileira tem sido drasticamente influenciada pelas políticas brasileiras e norte-americanas, uma vez que as taxas de juros altas já drenaram a maior parte do recurso da bolsa que estaria disposta a fazer tal migração. Porém, com juros mais elevados, teremos resultados piores nas empresas e, por consequência, balanços que vão frustrar mais os investidores de renda variável.
- Diante das decisões do Fed e do Copom, quais setores da bolsa brasileira podem se beneficiar ou sofrer impactos?
Somente o segmento bancário deve ser beneficiado pelo aumento dos juros, porém, até mesmo sua melhora será pontual, uma vez que no nível em que estamos, teremos um aumento no risco de calotes, o que aumentaria o PDD dos bancos.
- Pode-se esperar um aumento na volatilidade dos mercados na semana da Super Quarta?
A semana da Super Quarta deverá vir com muita volatilidade, principalmente pelos fatores políticos que ainda serão tratados durante a semana. Com a rixa entre o Trump e o Powell, teremos pronunciamentos do presidente americano que podem influenciar o mercado financeiro.
- Além das decisões da Super Quarta, quais outros fatores podem impactar as bolsas americana e brasileira ao longo do mês?
As atenções estão voltadas para até onde a guerra tarifária será executada e o que não passa de instrumento para política internacional. Além disso, o possível término da guerra Rússia x Ucrânia deve animar os mercados pela melhora na logística mundial de alimentos.