Felipe Araújo: A esquizofrenia da imprensa abre espaços a fascistas, bolsonaristas e canastrões com deformações da Democracia

Artigo do jornalista e advogado Felipe Araújo:

Na psicanálise, “sintoma” é a expressão cifrada de algo recalcado. Na imprensa, caixa de ressonância do que acontece na sociedade, incluindo a manifestação de seus recalques constitutivos, os “sintomas” podem ser observados em opções editoriais mais ou menos explícitas, mas também naquilo que não é dito, que não é publicado.

“O verniz do vale-tudo”, precioso ensaio do jornalista Fernando de Barros e Silva na edição de abril da revista Piauí, investiga alguns dos “sintomas” correntes na chamada grande imprensa. Em particular, na relação conflituosa e contraditória que os chamados grandes veículos de comunicação apresentam com o conceito de democracia.

Quando um jornal como a Folha de São Paulo, por exemplo, abre espaço para um fascista como Bolsonaro publicar um artigo chamado “Aceitem a democracia”; ou quando um jornal como o Globo publica um artigo de um irresponsável como Eduardo Pazuello com o título “Cada um tem um papel na democracia”; ou ainda quando jornais de repercussão local como O POVO convidam golpistas notórios e fascistas desabusados para suas páginas de opinião, estamos diante daquilo que Barros e Silva chama de “opção deliberada pelo vale-tudo disfarçada sob o verniz do pluralismo”.

Freud explica. É que, assim como os sonhos, esse “sintoma” editorial é também a realização de um desejo. Mas aqui o sujeito que sofre com seu sintoma não reconhece nele uma satisfação. E aí a roda da esquizofrenia editorial gira abrindo espaço para “acadêmicos” e “especialistas” que aparecem, canastrões, para defender uma noção muito particular e enviesada de estado democrático por meio da exaltação do golpismo, da naturalização da tortura, do estímulo ao ataque infame às instituições democráticas, incluindo, ressalte-se, à própria imprensa.

Nunca é demais lembrar do velho Lacan quando esse dizia que “é o mundo das palavras que cria o mundo das coisas”. Ao abrir espaço para ideias fascistas, bolsonaristas, o mundo da imprensa está ajudando a parir um mundo das coisas monstruoso: intolerante, fascista, truculento, boçal… E, nesse vale-tudo editorial, será ele próprio, o mundo da imprensa livre, o primeiro a sucumbir aos desejos autoritários de seus articulistas.

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