Por Roberto Maciel, jornalista:
O deputado estadual e pastor pentecostal Alcides Fernandes (PL), que é muito mais conhecido por ser pai do deputado federal André Fernandes (PL) do que pela performance parlamentar que tem – é discretíssimo nas falas, tem dificuldade de prender a atenção dos colegas quando se pronuncia e assina pouquíssimos projetos -, anda feliz da vida. É que Ciro Gomes, o boquirroto sempre-candidato a presidente da República, o elogiou. De origem modesta, Alcides põe fé no que diss Ciro nesta semana: “Espero votar em você para senador!”.
Se Alcides estiver acreditando em Ciro, é bom que saiba: o autor da frase simpática deu uma pernada fenomenal nos coronéis que por longos e longos anos deram sustentação política e eleitoral à família dele. Trocou-os, com ditadura e tudo, para ficar com Tasso Jereissati, então um novato sem experiência de gestão pública mas que falava alto e prometia mudanças no Ceará – agredindo verbalmente tudo o que os militares haviam feito.
Depois, repetiria a pernada, aplicando a manobra contra Tasso e o líder maior tucano, Fernando Henrique Cardoso, ao aceitar ser ministro do petista Luiz Inácio Lula da Silva.
Foi o mesmo Ciro que, ex-ministro do presidente Lula, a quem cobria de elogios, confetes e serpentinas, chamou os governos petistas de “roubalheira”.
Ciro, caso Alcides não saiba, é aquele que escapuliu para Paris após o primeiro turno das eleições de 2018. Assim, abriu uma avenida larga e iluminada para que Jair Bolsonaro chegasse ao poder e, em 8 de janeiro de 2023, desse um golpe contra a Democracia brasileira – conspiração violenta que, por reação dura de Lula e do Poder Judiciário, foi para as cucuias.
E é o que despejava salamaleques para o hoje ministro Camilo Santana e para os irmãos Cid e Ivo, mas que agora os trata como inimigos de uma vida inteira.
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Alcides Fernandes não deve ser bobo. É possível que o filho André, oportunista e desconfiado, repercuta o comportamento do pai, faça exatamente como aprendeu no lar. Ciro Gomes também não é bobo. Sabe que levar na conversa um pastor evangélico, que se sustenta ouvindo e falando para gente crédula, não é para qualquer um.
É muito provável que o pastor não acredite em Papai Noel ou em duendes. Se acreditar, corre o risco de aprender da pior forma. E ainda pode estar nutrindo a desobediência ao oitavo mandamento.
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E vale notar: o religioso Alcides Fernandes teve o mandato de deputado estadual cassado por fraude às cotas para mulheres. A decisão do TRE-CE já alcança duas instâncias e agora ele e os outros três favorecidos pela fraude – Silvana Oliveira, Carmelo Neto (que também é presidente estadual do PL) e Marta Gonçalves (esposa do ex-presidente do PL, Acilon Gonçalves, que comandou a enrolada) – estão com recursos tramitando no TSE. Querem livrar a pele, mas o horizonte não lhes é dos mais propícios.

Se arruinar de vez o mandato, e as previsões são de que será arruinado pela Justiça, mediante outras deliberações semelhantes, perdeu, Alcides… Ou vai ter de se consolar chorando no ombro do Ciro ou no do Bolsonaro.

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