Por Roberto Maciel, jornalista:
A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) é citada no noticiário por uma série de crimes. Está agora sendo julgada pelo Supremo Tribunal Federal, em plenário digital que segue até a próxima terça-feira, por ter invadido os sistemas do Conselho Nacional de Justiça e fraudado ordem de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes. A maioria já foi formada – na primeira turma, três dos cinco ministros já disseram sim ao trancafiamento da senhora de codinome “Espanhola”. Carla queria fazer gracinha e mostrar que o CNJ não tinha segurança – o arremedo de mandado contra Alexandre tinha a assinatura do próprio Alexandre, obviamente falsa.
Nesse joguinho infantil e patológico, a parlamentar fanática do bolsonarismo arregimentou o hacker Walter Delgatti Jr., que havia descoberto as tramas de Sérgio Moro e Deltan Dallagnol para colocar Lula na cadeia, impedir que ele disputasse as eleições de 2018 e ajudar Bolsonaro a chegar à Presidência da República.
A “primeira-dama” da Secretaria de Segurança Pública de Caucaia estaria bem se fosse essa a única encrenca que tem na Justiça. Mas há uma série de problemas com ela: desde a perseguição armada a um homem negro em São Paulo a incentivos para que militares dessem um golpe de estado.
Carla é patética, se entrgou de alma e corpo ao bolsonarismo, foi usada, abandonada e agora passa por isso, mas não é de brincadeira.
A obscura mas ambiciosa deputada que queria ser o “Bolsonaro de saia” e Débora Rodrigues, a moça do batom, são, com algumas diferenças de miligramagem, compostas pelo mesmo veneno.
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Após passar uma temporada na Espanha, Carla Zambelli uniu-se no Brasil ao grupo feminino neofascista “Femen”, liderado por uma baderneira apelidada de “Sara Winter” (na verdade, Sara Fernanda Giromini). Depois, tornou-se militante direitista e guardiã de banheiros químicos dispostos na Avenida Paulista para, nas manifestações de 2013 e 2014, servir a quem pedia a cabeça da presidenta Dilma Rousseff (PT).
Dizendo ser funcionária da consultoria internacional KPMG, surfou na exposição do golpe contra Dilma e conseguiu se eleger deputada federal por São Paulo.
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Carla passou de militante do áspero e antipático Femen a integrante da base do PSDB de Aécio Neves e FHC. Flertou com as estruturas da Fiesp, à época comandada com mão de ferro pelo então emedebista e sempre oportunista Paulo Skaf, empresário hoje filiado ao Republicanos.
Rapidamente migrou para o bolsonarismo, no qual conseguiu marcas mais fortes. Inclusive teve atribuída a si, pelo líder do grupo, a razão de ele ter perdido as eleições de 2022. Abandonada, não aparece ninguém de expressão (boa ou má, não importa) na extrema-direita que a defenda.
Virou uma espécie de sub-celebridade do extremismo. Até afilhada de casamento de Sérgio Moro se tornou.
Está no segundo mandato na Câmara, no qual, como o primeiro, não apresenta nada que a valorize e ofereça à imagem dela brilho por desempenho. Não encaminhou nenhum projeto que mereça atenção nem fez discursos interessantes para o eleitor. Nem nas comissões teve performance além da mediocridade.
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Um episódio, porém, se destaca. Foi numa comissão da Câmara federal. Lá, uma ex-amiga, a deputada-jornalista Joice Hasselman (PL-SP), um pote transbordante de mágoas e de abandono, foi simples, seca e direta ao dirigir-se a ela para fazer uma avaliação sincera: “Você é burra, Carla!”
Não se pode, por cautela ou prevenção, assinar embaixo do que Joice costuma ou costumava dizer – ela padece de comportamento similar ao da outra. Mas quem vai querer ou poder descredenciá-la ou questionar a observação?