Da Rede Lado, articulação de profissionais que atuam na área da justiça trabalhista:
Um problema que está longe de acabar e vem sendo amplamente denunciado nos meios de comunicação, casos de racismo impactam profundamente a vida e a saúde mental de pessoas negras. De acordo com pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva e pela plataforma QuestionPro no fim de 2024, 73% dos negros entrevistados afirmaram que cenas vivenciadas de preconceitos e discriminação afetam a saúde mental; do total ouvido, 68% afirmaram conhecer alguém que já sofreu constrangimento por ser negro.
Na mídia, corriqueiramente lemos notícias sobre casos em que pessoas negras sofrem com o preconceito. Em um deles, recentemente, uma aluna de 15 anos do colégio Mackenzie, em São Paulo, foi internada após ser encontrada desacordada dentro do banheiro da escola. Segundo a família, a jovem negra e bolsista era vítima de racismo e homofobia por parte dos outros alunos da instituição, que já havia sido informada sobre os ataques.
Em outra situação, uma mulher de 21 anos denunciou nas redes sociais ter sido demitida por usar tranças no ambiente de trabalho. A jovem Gabriela de Barros trabalhava em uma empresa de consórcios de Maceió (AL), onde, além de ter sido coagida a retirar as tranças que havia feito, disse ter sido comparada com outra funcionária branca. “Tire essa trança hoje. Se for para vir amanhã para a empresa, nem venha com essa trança. Estou te avisando”, teria dito a ex-chefe dela.
De acordo com a psicóloga e psicanalista Maria Lúcia da Silva, casos assim têm impactado a saúde mental da população negra, gerando sofrimentos como abalos psicológicos, estresse crônico, vulnerabilidade emocional, ansiedade, depressão e síndrome do pânico. “O racismo estrutural atravessa todos os aspectos da vida social — da moradia à educação, da saúde à justiça — e impõe uma carga constante de estresse psíquico às pessoas negras. Não se trata apenas de episódios isolados de discriminação, mas de um modo contínuo de existir em uma sociedade que nega humanidade, voz e pertencimento”, define.
Segundo Silva, “é urgente que a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra seja reconhecida e que os cuidados, pautados pela política de saúde mental, reconheçam o racismo como determinante social do sofrimento psíquico”. Entre as medidas, a psicóloga aponta a importância da formação antirracista dos profissionais de saúde; a inserção de psicólogas e psicanalistas negras nos espaços públicos de atendimento; programas específicos de cuidado para juventudes negras, especialmente em territórios vulnerabilizados; e a articulação entre saúde, cultura e ancestralidade, usando a espiritualidade, oralidade e coletividade como caminhos de cura.
Taxas de suicídio entre adolescentes negros são maiores
Em diversos casos, o abalo psíquico culmina em atos extremos. De acordo com dados do Ministério da Saúde, adolescentes e jovens negros têm maior chance de cometer suicídio no Brasil. Na faixa etária de 10 a 29 anos, o risco de cometer o ato foi 45% maior entre os que se declaram pretos e pardos. A mortalidade também é maior entre essa fatia da população: enquanto os números ficaram estáveis entre os brancos de 2012 a 2016, eles aumentaram 12% para a população negra da mesma idade.