Por Roberto Maciel, jornalista:
Delações premiadas, ou, eufemisticamente, “colaborações”, se tornaram muito conhecidas do público durante a carnificina cometida pelos delinquentes da Operação Lava-Jato – uma aberração jurídica, política e humana bastante aplaudida pela classe média e pelos barões da Imprensa. Naquela época, elementos como Sérgio Moro, Marcelo Bretas e Deltan Dallagnol se fizeram celebrizar também por oferecer atenuantes a quem se dispunha a entregar a eles a cabeça de personagens suspeitos ou autores de corrupção.
No Ceará, chama-se popularmente esse ato de “cabuetar”, corruptela de “alcaguetar”. Cabuetar é coisa feita por que é “cabueta”.
Corte rápido para aquele esse sujeito já citado, Sérgio Moro, hoje senador da República “representando” o Paraná.
Moro foi um dos nomes mais aplaudidos e bajulados na festa de casamento da deputada Carla Zambelli (PL-SP) e do coronel da Polícia Militar do Ceará Aginaldo de Oliveira. Foi em fevereiro de 2020 e o então ministro da Justiça havia sido convidado como padrinho. Carla era uma espécie de superstar da extrema-direita, uma serviçal fiel de Jair Bolsonaro e outros. Aginaldo encarnava o estereótipo de PM durão, diretor da Força Nacional de Segurança nomeado pelo agora réu da Justiça Jair Bolsonaro.
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Voltemos para, mais uma vez, mostrar como o mundo dá voltas, como capota. Presa na Itália, onde estava foragida da lei brasileira, Carla Zambelli tem neste momento tempo de sobra para refletir sobre como será o futuro que a espera. Enjaulada, poderá inclusive elaborar estratégias para se defender das graves acusações que a levaram à condenação ou, se não conseguir tanto, se definir como peça usada por um mecanismo operado por Bolsonaro, filhos e cúmplices.
Veja só, então, que ironia: Carla Zambelli terá diante de si a oportunidade de abrir verbo e contar tudo o que sabe, ouviu e viu sobre os bolsonaros – família reconhecida, entre outros episódios, por tentar roubar joias e por dar um golpe de estado frustrado. A isso se poderá chamar de delação premiada. Ou tal “colaboração” utilizada pelo padrinho Sérgio Moro.
Está abandonada pelos antigos chefes, isso é certo. Não tem mais muito a perder.
A deputada, que começou a carreira política limpando banheiros químicos e que, antes, viveu na Espanha, pertinho do país onde está agora presa, terá a chance de limpar novamente o cenário em que se inclui. Ou ao menos colaborar com a Justiça para esclarecer a ação bolsonariana – se possível, citando quem patrocina a família.
Cabueta, Carla, vai fundo!