Por Roberto Maciel, editor do portal InvestNE:
Donald Trump não é um abestado, do tipo que costuma aparecer em produções B e C com que Hollywood invade sessões da tarde e quetais. Não é alguém como o diretor de escola que persegue o aluno folgado de “Curtindo a Vida Adoidado” mas que ninguém leva a sério e não deixa de enganar.
Não. Donald Trump é um espertalhão. É alguém dividido entre a vigarice e a truculência. É alguém que fala alto, arrota autoridade e abusa do poder que tem. É de outro tipo que costuma aparecer em produções B e C com que Hollywood invade sessões da tarde e quetais – o que toma coisas na marra, bate nos mais fracos e chuta cachorrinhos. É alguém como o valentão que domina o beco onde mora o personagem de Charles Chaplin em “O Garoto”.
Mas é alguém que está sempre às voltas com o que fez ou deixou de fazer. Faltam-lhes moral e conteúdo para se defender em confrontos.
Repare: enquanto aplicava em diferentes governos o golpe da tarifa de exportação, Donald Trump tinha de digerir um aumento de postos de trabalho nos EUA muito abaixo do que se esperava e se necessitava. Geraram-se 73 mil vagas nos Estados Unidos, mas a demanda e a expectativa, inclusive do próprio governo, eram de 106 mil. Isso dá menos 69% da necessidade projetada – ou, por outro ângulo, deixa um déficit de mais de 21%.
Não é pouquinho. É um buraco muito expressivo que vai, sem dúvida, alcançar a vida do eleitor médio conservador, aquele que, sem se incomodar com o passado de Trump com o pedófilo e explorador sexual Jeffrey Epstein, votou no candidato da extrema-direita – que deu um golpe de estado em 6 de janeiro de 2021 e foi frustrado, mas acabou sendo absolvido pelo cidadão e pela Justiça.
Esse eleitor é rancoroso. Não é, necessariamente, cúmplice de desarranjos. Quer o melhor para si (e quem tentar impedir vai se ver), entende minimamente de economia e sabe o que pode ocorrer no futuro se o presente não for bem controlado. É alguém que admite uma guerra ou a humilhação contra outros povos, mas não quer ter dinheiro jogado fora em nome dessa virulência.
Donald Trump não é um abestado. Abestado é quem afrouxa as rédeas para ele, é quem lhe dá trela.