Agência Pública: “Prisão de Bolsonaro é a ponta do iceberg”

Por Marina Dias, jornalista da Agência Pública:

O ex-presidente Jair Messias Bolsonaro teve a prisão domiciliar decretada ontem (4), após ter participado por telefone de uma manifestação contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e em defesa de sua anistia. Apesar de sua prisão recente, a Agência Pública acompanha o caso há muito tempo. Nós cobrimos cada etapa do julgamento da tentativa de golpe de estado, sempre estivemos de olho nas articulações e alianças do clã Bolsonaro com a extrema direita norte-americana e também aos ataques ao STF promovidos por Jair e seus apoiadores.

Desde 2019, a equipe da Pública acompanha de perto a aproximação de Eduardo Bolsonaro de figuras da extrema-direita dos Estados Unidos. Em 2023, revelamos que ele passou a articular sanções americanas contra o STF – movimentações que resultaram no tarifaço de Trump contra o Brasil.

Contamos na mão as 77 reuniões feitas por Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos ao longo do governo do pai e demos os nomes aos seus principais aliados. Mostramos também que Eduardo abriu uma empresa no país, que tinha “indícios de lavagem de dinheiro”, como definiram especialistas. Quando contatamos o deputado para fazer questionamentos, ele encerrou o contrato. Desde então, seguimos nessa mesma toada, alternando entre investigações das negociações do bolsonarismo nos EUA e seus negócios por lá. 

Hoje, na live “Trump, Bolsonaro e as eleições de 2026”, nossa diretora executiva, Natalia Viana, e o professor, ativista e colunista, James Green, analisaram como resistir à ofensiva bolsonarista-trumpista e de que forma os EUA podem influenciar as eleições no Brasil ano que vem. Durante a conversa, um comentário chamou atenção: foi Steve Bannon (ex-estrategista de Donald Trump e aliado da família Bolsonaro) que escolheu Eduardo como líder da extrema-direita na América Latina.

Além disso, Bannon também cunhou o termo “primavera brasileira”, que passou a ser utilizado no final de 2022 para se referir aos acampamentos e protestos que buscavam manter Jair Bolsonaro no poder, ainda que isso fosse contra os resultados democráticos. 

Uma investigação que publicamos hoje revela um pouco mais do envolvimento de bolsonaristas com o trumpismo. Uma empresa do influenciador Paulo Figueiredo, que rodou pelos Estados Unidos com Eduardo Bolsonaro pedindo sanções ao Brasil, é citada em uma ação judicial norte-americana relacionada a um caso de falência. A ação busca recuperar transferências que teriam sido parte de uma fraude bilionária liderada, de acordo com apurações do Mother Jones, pelo magnata chinês Miles Guo, trumpista e ex-sócio de Steve Bannon.

Guo, desde 2015, está auto-exilado nos EUA. Ele foi condenado por nove crimes, entre eles lavagem de dinheiro e organização criminosa. 

Amanhã entra em vigor mais uma medida orquestrada pela aliança bolsonarista-trumpista: a tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros importados pelos Estados Unidos. A justificativa para a medida foi que as autoridades brasileiras estariam prejudicando empresas americanas, o direito à liberdade de expressão dos cidadãos norte-americanos e a economia do país. 

Mas assim como mostramos que a investigação comercial ordenada por Trump a respeito do pix é resultado de uma retaliação das big techs que andam insatisfeitas com os rumos de decisões brasileiras sobre as regulamentações digitais, quem garante que o tarifaço não é apenas mais uma forma de tentar controlar a política interna do Brasil?

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