Carlos Gildemar Pontes: “A respeito de civilização e barbárie”

Por Carlos Gildemar Pontes (foto), professor de Literatura da Universidade Federal de Campina Grande (PB) e escritor:

Jamais haverá libertação e ruptura dos considerados bárbaros (povos originários, negros, periféricos e marginalizados) enquanto o povo se mantiver iludido em religiões que pregam a salvação. A maior parte dos cristãos (católicos, evangélicos, espíritas…) apoiam ou se calam diante do genocídio ao povo palestino. 

O Deus dos cristãos não é o mesmo Deus dos muçulmanos, dos judeus, dos umbandistas? O que os cristãos aceitam é uma hipocrisia travestida de verdade, que tornam grande parte deles subservientes, incapazes de praticar o que dizem proferir. E o pior de tudo é que acreditam ter razão acima dos que não praticam o cristianismo. Ignoram, estupidamente, por falta de conhecimento das demais religiões ocidentais e orientais e esquecem da humanidade que caracteriza cada um. 
Quem civilizou o Novo Mundo foi o cristianismo. E o fez impondo a mentira bem orquestrada por Constantino e pelas sanguessugas das almas que se investem na autoridade da fé. Para tudo isso, invoco o Código Tupinambá, genialmente estetizado por Oswald de Andrade no Manifesto Antropófago. Trata-se de um manifesto cultural da maior importância para compreendermos a cultura brasileira, tão judiada e ignorada pelos negacionistas e traidores da pátria.
Lembro da história de Franz Fanon, filósofo em sua terra, a Martinica: foi à França, país colonial, para dar orgulho ao seu povo. Lá, em Paris, não o tratavam como filósofo. Mas era tratado apenas como um negro. Isso foi determinante para que fosse embora da França e se alistasse para combater a empresa colonizadora francesa, lutando pela libertação da Argélia, também colonizada. 
A civilização crudelizou sua relação com os povos subjugados, impôs conceitos e valores e impediu que desenvolvessem sua razão, para que não pudessem confrontá-la com a razão civilizada e colonizadora. Foram os civilizados que criaram e mantiveram todos os holocaustos da humanidade.
Aceitá-la como parâmetro para todos é um engano para quem acredita em uma superação a ser vencida por quem foi subjugado. Enquanto nos iludirmos com o conceito de civilização como modelo, iremos ser tratados como ameaça e terceiro-mundistas, descartáveis e desnecessários.  

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