Por Paulo Motoryn, jornalista do site The Intercept, na newsletter Cartas Marcadas:
O casamento do Centrão com a extrema direita está cada vez mais escancarado. O avanço da pauta da anistia não deixa dúvidas de que a base do Congresso já se conformou em atuar como sócia do projeto golpista.
Não se trata apenas de uma articulação de bastidor: é a normalização de que é aceitável perdoar a tentativa de destruição da democracia de 8 de Janeiro em nome de conveniências políticas.
Na semana passada, escrevi no Intercept sobre como o establishment — imprensa, Faria Lima e Centrão — já foi convencido pela extrema direita de que existe algo como uma “anistia light”.
Essa ficção jurídica se transformou em consenso entre os que comandam os rumos do país e está pronta para avançar tão logo o julgamento do núcleo crucial da tentativa de golpe, retomado hoje no STF, seja concluído.
O natural seria que a reportagem da edição desta semana de Cartas Marcadas, escrita mais uma vez pelo repórter Thalys Alcântara, fosse publicada em veículos que cobrem o dia a dia da Câmara dos Deputados – o que não é nosso caso. Mas eles não irão. A verdade é que, para os donos desses veículos, não vale a pena desafiar figuras como Hugo Motta.
Como o nosso jornalismo não é do tipo que prefere bajular tomadores de decisão em vez de confrontá-los, é aqui que você vai ler que Motta está chefiando uma escalada autoritária contra a imprensa.
Não é uma denúncia que vai facilitar nosso trabalho em Brasília, tampouco aumentar nossas chances de entrevistar os donos do poder. Mesmo assim, vamos publicá-la – simplesmente porque acreditamos que a democracia se sustenta no direito de perguntar, no dever de incomodar e na recusa a aceitar a censura como rotina.