Por Tuty Osório, jornalista e escritora:
Quando criança, havia campanhas de incentivo à leitura na TV. Personagens da literatura brasileira falavam das vantagens e da magia, Ler é Viver foi o melhor slogan. A aparição de Ana Terra, de O Tempo e o Vento, a melhor revelação. Com Erico Veríssimo e com os demais que amo, aprendi que escrever bem é saber contar uma história. Vale também para viver bem. Se o recado chega truncado, demora demais para desenrolar o novelo, embola tudo em nós indecifráveis, cai no pedantismo ou na vulgaridade, o enredo não valeu, perdeu-se tudo.
É assim para Clarice Lispector (foto acima) e Virginia Wolf, famosas por serem enigmáticas, intimistas. E para Lygia Fagundes Teles, direta e cortante como um facão guarani. Um canivete de madrepérola. A poesia, a prosa, os românticos, os naturalistas, os contemporâneos fazem direito o serviço quando são capazes de nos enlevar com suas fábulas reais ou fantásticas. No chamado Primário, a professora de geografia que definia a Terra como uma bola de água que corria atrás de um bolão de fogo maior, o Sol, fazia-se entender porque nutria a nossa imaginação.
Aprendíamos com a beleza, a criação de imagens sugeridas pela expressividade daquela contadora imbatível. Inesquecível. Repete-se a harmonia quando me deparo com Isabel Allende, escritora de 83 anos na ativa, entregando livros que nos fazem viajar por múltiplos planos. Na leitura mais recente, conheci as crianças latinas separadas dos pais em 2019, no primeiro governo Trump. Ressalte-se que esse é um dos fios da intensa meada que enovelamos sob a condução da chilena nascida no Peru, autora da Casa dos Espíritos que virou filme com Meryl Streep, Winona Ryder, Jeremy Irons e Antônio Banderas. Traduzida em mais de 40 idiomas e com mais de 77 milhões de exemplares vendidos ao redor do mundo, Isabel encanta, ensina, desperta.
Sou fá de densidade e de simplicidade. Não sei se as há em Allende. Sei que leio e gosto. Ganho aquele par de asas que há quem insista em negar. Eu confesso que aprecio a metáfora e entrego-me ao espanto, perdendo ou não o senso, sem me importar se é não, sim, talvez…
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Tuty Osório é jornalista, especialista em pesquisa qualitativa, e escritora.
São de sua lavra QUANDO FEVEREIRO CHEGOU (contos de 2022); SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA (quadrinhos com desenhos de Manu Coelho de 2023) e MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE MARIA AGUDA, dez crônicas, um conto e um ponto (crônicas e contos, também de 2023).
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SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA
QUANDO FEVEREIRO CHEGOU
MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE MARIA AGUDA
Em dezembro de 2024 lançou AS CRÔNICAS DA TUTY em edição impressa, com publicadas, inéditas, textos críticos e haicais.