Sergio Rodrigues, no UOL: “Pornografia política é atrativo da direita”

O colunista Sérgio Rodrigues publicou hoje no portal UOL:

A extrema direita desempenha na política um papel análogo ao que a pornografia tem na representação da sexualidade humana: é
descomplicada, mentirosa, excessiva, desumanizadora e, no fim das contas, frustrante.

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Continua o texto:

A descomplicação é o atrativo mais vistoso, logo na entrada. Na pornografia, meia dúzia de palavras — ou nem isso — são preâmbulo suficiente para que duas ou mais pessoas procedam a se comer.

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O negócio aqui é vender respostas muito simples — falsas, mas atraentes — para questões complicadas. Desemprego? Culpa dos imigrantes. Violência urbana em alta? Arme-se o cidadão. Pandemia? Vida normal — e cloroquina!

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O ganho para a extrema direita é duplo: o povo aplaude, por estar de justo saco cheio da violência do crime organizado; e desvia-se o foco dos chefes reais do negócio, entre os quais há até “gente de bem”.

Aí vem o segundo atributo da lista: para sustentar tanta “descomplicação”, a pornografia mente à beça. Pouca gente tem aqueles corpos, aquele furor, e quantidade não é o mesmo que qualidade.

Crise do clima? Falácia. O nazismo era de esquerda. Se os bilionários forem taxados, a economia entra em colapso. A mamadeira de piroca existiu mesmo, eu vi. Chega-se a extremos tolos de insanidade: a Terra é plana!

(Mas o que é a mentira quando o deep fake ameaça o próprio tecido da realidade, condenando a gente a desconfiar de nossos sentidos para sempre?)

Terceiro atributo compartilhado: o excesso. A pornografia tem peitos gigantes, paus imensos, ejaculações em catadupas. Corpos são grandes máquinas. Sua lógica hiperprodutiva desumaniza, tornando obsoleta qualquer subjetividade.

A extrema direita é adepta do mesmo gigantismo super-humano. A quantidade de cocô que aquele Trump de IA despejou do avião sobre seus compatriotas do No Kings encheria o Maracanã. Um punhado de mortes por vez já não basta? Que tal montanhas de cadáveres?

Por fim, a pornografia só pode ser frustrante, pois o alívio que dá é precário, incompleto, deixando a seus adeptos uma única saída: consumir mais pornografia.

No fundo, não há nela sentido maior que o da autoperpetuação — como também nos políticos da extrema direita. Depois que todas as suas propostas se revelam picaretas, equivocadas ou doidas, resta o poder. Precisa mais?

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Não se nega que seja esperta. Como a pornografia propriamente dita, seu apelo aos baixos instintos do público garante sucesso de audiência — e urna. Quer dizer, a princípio. Até vir um Mamdani da vida.