Por Roberto Maciel, jornalista:
Houve hoje (13.11) um incêndio no Hospital Dr. César Cals, no Centro de Fortaleza. Foi fogo brabo, como se diz, daqueles que podem se alastrar e causar muitos e gravíssimos danos – alguns dos quais, devemos admitir, irrecuperáveis. Não é a primeira vez que isso se dá na instituição, razão pela qual corri para minhas memórias e para papeis guardados.
Foi em 1959, no dia 4 de agosto – data dedicada aos padres e a São João Vianney (também se atribui o 4.8 à Invenção do Champagne por um francês chamado Don Perignon, que virou sinônimo da cara e pedante bebida).
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(Escrevo isso porque não vi em telejornal nenhum, pelo menos até o meio-dia desta quinta-feira, uma referência sequer ao ato de bravura que vou relatar – talvez seja por desconhecimento, talvez pelo desapego de fundamentos do jornalismo, talvez por se ligar muito pouco para o que há de bom e humano num garoto de 17 anos de idade, nascido em Fortaleza, filho de desembargador, que faria 84 anos no próximo dia 24).
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Pois em 4 de agosto de 1959, esse menino de 17 anos de idade ia voltando da praia para Casa – há quem diga que retornava de academia de halterofilismo, mas não importa a origem e sim o destino. Rapaz corajoso, aquele: viu o Hospital César Cals em chamas e, no lugar de seguir caminho e deixar o fogo para os bombeiros apagarem, achou de entrar no meio das chamas e de levar para a rua e para a segurança mães e crianças que estavam na maternidade.

O nome do moço era João Nogueira Jucá.
Fez o que tinha de fazer, enfrentando ali toda sorte de perigos. Aluno do então elitizado Colégio São João (onde hoje há um vulgar supermercado, na Avenida Santos Dumont), não quis saber dos riscos nem das queimaduras que já sofria. Foi buscar pacientes. Um tubo de oxigênio explodiu e o atingiu. Uma semana depois, em 11 de agosto, João morreu.
É difícil saber ou contar a história de João Nogueira Jucá e não se emocionar. Esse menino cearense fez história com a vida curta que tinha vivido.
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Naquele incêndio ainda faltava um tempo para eu nascer, daí não ter agora muito a opinar. Mas valho-me do que meu pai me falou. Uma vez ele me disse que conheceu o João. Chegaram a jogar futebol nos fins de semana na Praia da Formosa, perto no trecho que hoje em dia abriga um hotel. Uns rachas despretensiosos, falou. “Era o menino normal. Ninguém sabia que era um herói, mas era. Não era briguento nem metido a valente. O que ele fez não foi coisa de gente comum”.
Pensando bem, pai, ninguém precisa dizer que é herói. Basta ser. João Nogueira Jucá foi.
Precisamos de outros que, com a juventude dele, com integridade, esbanjem solidariedade, inteligência, emoção e coragem. Esse é o fogo nosso de todo dia, de cada dia.


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