Na segunda edição de Cartas Marcadas, publicada em julho deste ano, eu contei como o Republicanos, o partido de Hugo Motta e Tarcísio de Freitas, costuma pregar austeridade no uso do dinheiro público enquanto circula em jatinhos pagos com fundo partidário e ostenta jantares com bifes folheados a ouro em Nova York.
A resposta deles àquela reportagem foi a de sempre: exagero, perseguição, casos isolados.
Mas os meses seguintes mostraram que “isolado” talvez seja a última palavra para descrever o que aconteceu. Desde então, uma sequência de episódios desmonta a narrativa de excepcionalidade.
Um mês depois, em agosto, o Republicanos veiculou uma propaganda em TV aberta em que exibia o ex-prefeito de Embu das Artes, Ney Santos, como porta-voz do partido, felicitando a sigla pelo seu aniversário de 20 anos.
Aos desavisados: Ney Santos e o sócio Ricardo Luciano Andrade dos Santos foram investigados durante quase 11 anos por suspeita de lavar dinheiro para o Primeiro Comando da Capital, uma das maiores facções criminosas do país, por meio de uma rede de postos de combustíveis.
Em setembro, a CPI do INSS revelou que uma das principais associações envolvidas no esquema de descontos ilegais a aposentados comprou, por meio de uma ONG parceira, uma aeronave do deputado federal Euclydes Pettersen, do Republicanos de Minas Gerais.
O caso não foi grande surpresa para quem lê o Intercept Brasil. Em abril deste ano, o repórter Thalys Alcântara já havia tratado de graves suspeitas envolvendo Pettersen, ao revelar que o deputado empregava em seu gabinete um piloto acusado de atuar para o tráfico de drogas ligado ao Primeiro Comando da Capital, o PCC.
Na semana passada, Petterson foi um dos alvos de mandados de busca e apreensão cumpridos pela Polícia Federal em uma nova fase da Operação Sem Desconto, e foi apontado como o parlamentar mais bem remunerado num esquema de propina de R$ 14,7 milhões no INSS.
A grande mídia fecha os olhos quando deputados do Republicanos empregam pilotos do PCC, quando vereadores são presos por ligação com o CV ou quando prefeitos lavam dinheiro para o crime organizado.
Eu passo meses conectando casos que eles tratam como “isolados” porque você financia esse trabalho. A newsletter Cartas Marcadas só existe porque leitores como você não aceitam a omissão, disfarçada de isenção, da imprensa tradicional.
No dia seguinte, na Baixada Fluminense, outro integrante do Republicanos, Marcos Henrique Matos de Aquino, vereador mais votado de São João de Meriti, foi detido dirigindo um carro oficial durante uma operação que investigava o avanço do Comando Vermelho.
Aquino foi preso portando uma arma irregular e remédios controlados. O vereador pagou fiança, falou em perseguição política e saiu — mas a polícia agora investiga a relação dele e do irmão com o CV.
O mês de novembro também reservou outra notícia bombástica no Republicanos. O prefeito que o partido tratava como potencial candidato ao governo paulista em 2026 (caso Tarcísio se lance à Presidência) foi afastado por chefiar uma organização criminosa em Sorocaba.
Rodrigo Manga foi acusado pela PF de liderar uma organização criminosa com dois núcleos: um financeiro, que lavava dinheiro por meio da empresa da primeira-dama e de contratos com uma igreja; e um político, responsável por negociar contratos e propinas na saúde municipal.
A sucessão de casos impressiona pelo número e pelo contraste com a imagem que o partido tenta projetar.
O Republicanos se vende como guardião da ordem, da moralidade e, segundo o que diz Ney Santos na propaganda na TV, é “o maior partido conservador no Brasil”.
Mas as histórias se repetem: Baixada, Minas, Amazônia e Sorocaba.
Uma sequência de investigações por corrupção, lavagem de dinheiro e relações com PCC e Comando Vermelho convivendo em absoluta harmonia com o tal discurso conservador.
Esse panorama ganha ainda mais peso porque Tarcísio de Freitas é, hoje, virtual candidato à Presidência da República em 2026, enquanto Hugo Motta comanda a Câmara dos Deputados.
O Republicanos não é um coadjuvante: é o partido que controla o principal governo da direita.
Por isso, entender o entorno político que esses líderes constroem é fundamental para compreender o perigo do projeto que quer comandar o país.