Por Tuty Osório, jornalista e escritora:
Dessa vez vamos de Brasil. Ceará. Vamos a uma viagem dolorida, porém, necessária. Uma história de gente da qual esquecemos cotidianamente, com a dedicação pra um dia de cada vez, voltado para o sol, pra chuva, que escolhemos ao passar da porta do nosso conforto tão batalhado.
Não queremos ver, só que essa gente está aí, e, estranhamente, vive. Vive a despeito da nossa alegria e do nosso sofrimento. Tentamos esconder essa gente, mal conseguimos nos esconder dela. Contudo, minha gente, gente é fundamental para o resgate da tal da humanização, tão desprezada pela impiedade da indiferença.
Pelas ruas, sobre e sob as ruas. É sobre isso que Ana Márcia Diógenes fala num romance que ficciona a verdade, arduamente pesquisada por anos. A partir de sua vivência como jornalista, Ana chegou com essa narração indicada ao Oceanos de 2025.
Não é obrigatório saber (lamento, mas há coisas que são, sim, de obrigatório conhecimento, o que não é caso), daí pesquisem. Trata-se de uma premiação para autores que escrevem em língua portuguesa, aqui e em todos os países que a adotam pelo mundo.
Pois é, esse texto difícil – que conta sobre algo banal e por isso, também, apavorante porque normalizado, absurdamente- foi indicado e em si a indicação já significa reconhecimento. Não por ser um Prêmio Literário. Por serem os julgadores referentes de qualidade e seriedade.
Fugi desse livro por meses. Quando o enfrentei fiquei desesperada. Insisti, porque a Ana é boa na contação. Não gosto de tudo o que ela escreve. Dá nisso a pessoa ser, digamos, reflexiva nos encontros e desencontros. Com esse eu me encontrei e venho aqui sugerir que marquem essa possibilidade. Temos boas escritoras. Escritores, também.
Vale demais uma caminhada pelos olhos desse pessoal que luta pela atividade literária sem soberba, sem arrogância. Ana Márcia Diógenes está nesse grupo. Inclusiva, habilidosa, firme, tem liderado movimentos a favor da produção em nossas paragens que abrigam quem ainda considere que arte é desocupação.
Sou chamada de radical por um certo senso comum. Pior, conhecida como arrumadora de confusão, com um pouco mais de generosidade, combativa. Um dia, olhei pra mim e disse: você, em vez de ficar aí repetindo frase feita vai ler BURACO DE DENTRO. E espalha o tanto de relevância que está ali.
Fiz e aqui estou, incitando. A autora tem outras lavras. Escreve pra crianças, faz poemas longos, profere palestras, ministra oficinas. Circula nas redes sociais, que eu abomino, sem nunca ser vulgar. Já que está na moda, até fingir, que se escreve e se lê, encaremos esse.
Uma saga que incomoda porque dispensa a superficialidade. E, sinceramente, estamos precisados de encarar mais do que os eventos. Nenhuma época mais adequada do que o Natal.
INFORMAÇÕES:
BURACO DE DENTRO, por Ana Márcia Diógenes, Editora Patuá, 2024 – Nas livrarias físicas e virtuais ou direto com a autora no Instagram.
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Tuty Osório é jornalista, especialista em pesquisa qualitativa, e escritora.
São de sua lavra QUANDO FEVEREIRO CHEGOU (contos de 2022); SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA (quadrinhos com desenhos de Manu Coelho de 2023) e MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE MARIA AGUDA, dez crônicas, um conto e um ponto (crônicas e contos, também de 2023).
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SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA
QUANDO FEVEREIRO CHEGOU
MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE MARIA AGUDA
Em 2024 lançou AS CRÔNICAS DA TUTY em edição impressa, com publicadas, inéditas, textos críticos e haicais.


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