A Crônica da Tuty: “A arte é tão mais comovente”

A mocinha de touca entrega uma jarra de suco na mesa ao lado. É ajudante na cozinha e está dando uma força ao garçom. Lancei o meu livro nesse restaurante, na véspera. Voltei para pegar umas caixas, uns troços do evento que optei por não carregar em fim de noite. Pergunto ao garçom, João, quantos são na cozinha e explico que separei um livro pra ele.

– Que legal! – diz, feliz. – Minha esposa até me falou, ontem, se eu não conseguia um. Muito obrigada! – comemora.

Pergunto se acha que o pessoal da cozinha vai gostar, também. Afirma que sim. Pego os exemplares na maleta. Autografo o do João em nome da esposa. Vou até ao balcão da cozinha e entrego os outros na mão de cada funcionário. Estão lembrados de mim. Do lançamento e das muitas vezes que apareço, como cliente. Mais um para a garota do faturamento e estou no ponto de partida.

Dali a minutos a mocinha de touca está em frente a mim no canto onde organizo as coisas para colocar no Uber. Pergunta se posso autografar para ela. Digo que sim, claro. Só não fiz isso antes porque pensei que talvez…Enfim, ela podia querer passar para alguém. Afirma que não. Que é para ela mesma. Faz questão de ter o nome dela escrito com a minha letra. E o autógrafo, segundo ela, provando que foi a autora que entregou, pessoalmente. Os outros também querem. Diz-me o nome de cada um.

Escrevo as dedicatórias emocionada. Não sei o que dizer. Não os conheço para além das mãos que preparam a comida alemã que me chega, sempre saborosa. Recebem os livros com um sorriso encabulado. Sinto alegria por ter me lembrado de oferecer. Junto com a vergonha de ter duvidado que valorizariam. Vejo todos os livros do mundo no pedestal que merecem. Acessíveis, como deveriam ser, a toda a gente.

Confirmo que a oportunidade faz. Uma vez tendo a escolha, seres teoricamente excluídos do hábito de leitura querem as letras, independente do que contêm. Quando o carro chega estão abraçados ao livro e só o soltam para me ajudar, espontaneamente, a carregar os meus balangandãs. Mesmo se eu não tivesse milhões de motivos para escrever, aquelas 5 criaturas divinas já seriam estímulo mais que determinante.

*** ***

Tuty Osório é jornalista, especialista em pesquisa qualitativa e escritora.

São de sua lavra As Crônicas da Tuty (crônicas de 2024), QUANDO FEVEREIRO CHEGOU (contos de 2022); SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA (quadrinhos com desenhos de Manu Coelho de 2023) e MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE MARIA AGUDA, dez crônicas, um conto e um ponto (crônicas e contos, também de 2023).

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SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA
QUANDO FEVEREIRO CHEGOU
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