Em 2025, Maria da Penha é símbolo, vida viva, prova de que há crime e é preciso lutar. A Lei com o seu nome fará 20 anos e temos que falar sobre a violência contra a mulher. Sobre esse ódio às mulheres. Quando criança, fui testemunha encantada da juventude que ganhava espaço nos anos 70 libertários, trilhando as estradas abertas a pau e pedra pelos combatentes dos 60. Saíam de casa aos 18 para morar em pequenas comunidades de amigos. Dividiam geladeira, fogão e sonhos. Amavam sem barreiras, sem medo. Ofereciam à minha imaginação de 9 anos um futuro livre, melhor. Eis que que chego ao futuro temendo por minhas filhas, por todas e pelos homens, também.
Não se enganem. A pior punição é a exclusão do sujeito do ciclo social. Quantos agressores circulam por aí, tratados como pessoas decentes, porque afinal é assunto do casal, não se deve interferir? Pois eu interfiro. Viro a cara. Falo contra. No meu terreiro não se criam. E se tocarem em alguém com o meu conhecimento vão ganhar uma inimiga certa e feroz. Sem negociação. Com estridência e bastante histeria. Não mexam comigo que eu nunca ando só. Releio a história de Maria da Penha, publicada pela Editora Armazém da Cultura, republicada, essencial. A mulher covardemente atingida, despertada por um tiro na medula enquanto dormia. Esperou anos pela condenação do atirador. Outros mais pela Lei que protege as mulheres e leva o seu nome. Nome que, recentemente, um influenciador tentou desqualificar, desencadeando injúrias e ameaças contra ela.
O tema da crônica era outro. Abordarei numa próxima vez. Não consegui evitar de falar a respeito de algo que não pode ser esquecido. Num domingo de manifestações pelo País, volta-se a divulgar as estatísticas conhecidas, em brado retumbante. Os homens estão matando as mulheres. Continuam matando as mulheres. Só que agora há denúncias, manchetes, vídeos, entrevistas, debates. Acredito que sempre foi assim. Parece maior porque hoje há vozes, leis, atitudes. É possível condenar os que agridem e chamar à revolta os que não são assim. Para que se unam às mulheres, para que façam qualquer coisa. Passou da hora de não levar a sério. Justificar as piadinhas machistas com um senso de humor bisonho, desprezível. Não tem graça. Tem choro, tem grito, tem punho erguido, tem protesto público e privado.
Dizia Rita Lee que era para estarmos nos Jetsons e voltamos aos Flintstones. Sem a graça do grito primal estilizado do Fred, sem a altivez charmosa da Wilma. Mergulhados na escuridão da caverna, não há sombras que nos iludam, quanto mais luz. Pois vamos em busca. Prometeu estende-nos o fogo, temos que alcançá-lo na encruzilhada, por mais perigosa…
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Tuty Osório é jornalista, especialista em pesquisa qualitativa, e escritora.
São de sua lavra QUANDO FEVEREIRO CHEGOU (contos de 2022); SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA (quadrinhos com desenhos de Manu Coelho de 2023) e MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE MARIA AGUDA, dez crônicas, um conto e um ponto (crônicas e contos, também de 2023).
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